14.4.11

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Sly and the Family Stone – Fresh (1973)

Quem saiu naquela noite de 2008 em LA para ver o Los Lobos (os mesmos do filme ‘La Bamba’) acabou presenciando um dos encontros mais surreais e históricos da música nos últimos anos. Era quase fim do show quando o DJ surpreendeu ao chamar ao palco George Clinton e o ícone black dos anos 70 Sly Stone. Aos 69 anos, Clinton tem lançado álbuns regularmente e segue fazendo shows, mas Sly... tinha sumido totalmente dos palcos e fazia raras aparições. Muitos ali devem ter inclusive estranhado ele ainda estar vivo. O autor de clássicos como ‘Everyday people’, ‘Sing a simple song’ e ‘Don't call me nigger, whitey’ subiu ao palco de preto só com chapéu branco que mostrava muito pouco do seu rosto. Demorou até engrenar algumas notas no teclado, cantou poucos versos do hino black ‘I want to take you higher’, desceu do palco e sumiu no meio da pista. E foi isso... a reaparição do líder da lendária Sly and the Family Stone foi tão histórica quanto rápida e angustiante.


Nos anos 80, um Sly muito mais em forma chegou a fazer participações em shows do Funkadelic do mesmo George Clinton. Mas as drogas acabaram o afastando completamente dos palcos. A Family Stone havia acabado no final dos anos 70 já bastante desfalcada e a carreira de Sly desandou totalmente nos anos 80 a partir do seu envolvimento cada vez maior com a cocaína e ele chegou a ser preso em 87. Recluso, pouco aparecia.

Em 2005, de novo voltou aos holofotes ao ganhar uma grande homenagem no Grammy com direito ao primeiro reencontro da Family Stone original desde 1971 e a uma superbanda com estrelas pop que haviam acabado de gravar o álbum tributo ‘Different strokes by different folks’, como The Roots (‘Star). Joss Stone (Family affair) e will.i.am (‘Dance to the music’). Sly mais uma vez surpreendeu ao aparecer com uma jaqueta dourada, óculos escuros enormes e um megacorte moicano loiro. Tocou e cantou pouco, mas ficou em cena por um tempo razoável. No fim, a noite que poderia marcar sua volta triunfal acabou sendo um show no mínimo estranho; os fãs não sabiam se comemoravam o retorno ou se lamentavam sua deterioração. As críticas variaram de ‘bizarro’ aos cruéis ‘podia ter se aposentado’. Elogios, muito poucos. Entre os fãs, clima foi mais de preocupação.


George Clinton, de novo ele, convidou Sly em 2009 para uma participação em seu álbum ‘Gangsters of love’. A música ‘Ain’t not peculiar’, clássico de Marvin Gaye dos anos 60, abriu o disco. Nada bombástico, mas outro recomeço. Clinton disse que Sly seguia compondo e preparava disco novo. De lá para cá, nada.

Para fazer o caminho inverso e rever Sly no auge, fazendo história nos anos 60 e início dos 70 com uma banda multicultural e racial que balançou o mercado americano, enfileirou hits e emplacou pelo menos quatro discos clássicos na história da black music, a dica do blog é o disco ‘Fresh’, sexto álbum e talvez a última obra-prima da banda. Gravado em 1973, tem músicas mais lentas que os petardos de ‘Dance to the music (1968), ‘Stand’ (1969) e ‘There's a riot goin' on’ (1971), mas groove no ponto e fica para sempre no iPod. Basta dizer que o hit é a incomparável ‘If you want me to stay’.


Trojan Reggae- Ska, Rocksteady and Reggae Classics 1967-1974 (2007)
 
Ska, rocksteady e reggae são para Jamaica quase o mesmo que samba e bossa nova para o Brasil. O ska nasceu primeiro da mistura do jazz americano com o mento e calypso caribenhos nos anos 60 sob clima de euforia após independência do país. O rocksteady veio logo depois na desaceleração do ska fazendo a transição para o reggae. Brothers de sangue, os três ritmos colocaram a Jamaica no mapa da música mundial com lugar de honra entre os países com maior produção de grupos e músicos de talento de todos os tempos. A coletânea da gravadora britânica Trojan resgata hits produzidos na ilha no final dos anos 60 e início dos 70, quando o reggae virou mania mundial a partir do fenômeno Bob Marley. A seleção é de altíssimo nível: de Lee Scratch Perry a Toots and the Maytals, de Upsetters a Slickers, de Dennis Brown a Desmond Decker. Claro, não podia faltar o rei Robert Nesta Marley, aqui tocando ‘Soul shakedown party’. Fundada em 1968 como selo da gigante Island, a Trojan tem nos seus arquivos todos os grandes nomes da música jamaicana e volta e meia empacota clássicos em caixas ou coletâneas especiais. As opções são imensas e o repertório quase sempre certeiro. Vale prestar atenção aos longos solos de metal nas músicas de ska e rocksteady e nas linhas de baixo nos reggaes. Num tempo de CDs ‘ensolarados’, a coletânea da Trojan é aquele solzinho tranqüilo do final de tarde que faz a cabeça.

Ebo Taylor – Love and death (2011) 

Músico, compositor e produtor ganês reconhecido como uma das maiores estrelas da música africana dos anos 60 e 70, Ebo Taylor ganhou seu primeiro álbum com distribuição internacional somente em 2011 pela gravadora inglesa Strut, a mesma de nomes como Mulatu Astatke, Orquestra Poly-Rythmo, Heliocentrics e Souljazz Orchestra. A redescoberta de Ebo Taylor vem na esteira do sucesso do próprio Mulatu e da nova onda de afrobeat pós-web que invadiu EUA e Europa com Fela Kuti virando influência direta para novas bandas. ‘Love and death’ traz o ganês, agora um senhor de 75 anos, em plena forma e acompanhado da Afrobeat Orchestra, um combo internacional formado especialmente para o disco com integrantes do Poets of Rhythm, Kanu Kanu e conterrâneos do Marijata. No álbum, Ebo toca antigos clássicos em novas versões, como ‘Victory’, e também material inédito, como ‘Kwane’. Em alta na Europa, o músico terá chance de coroar sua volta com uma super apresentação em julho, em Londres, no tradicionalíssimo Barbican. Confira músicas de ‘Love and death’ na playlist e no vídeo o próprio Ebo Taylor lembrando sua história e tocando... muito.


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