3.8.11

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Thelonious Monk – Brilliant Corners (1957)

Óculos com hastes de bambu, uma coleção de chapéus bizarros, jeito introvertido... demorou até o pianista Thelonious Monk convencer os fãs de jazz de que não era louco. Literalmente. Quando começou a aparecer no mundo da música, nos anos 40, na orquestra de Coleman Hawkins, o público de cara estranhou – e não perdoou – suas excentricidades. Monk não era diferente só no visual, tinha uma maneira de tocar completamente nova, minimalista, com longos intervalos entre as notas e os pés escorregando enfurecidos sob o piano nos solos. Mas o tempo e uma sucessão de discos históricos recheados de músicas que virariam standards do jazz o colocariam não só entre os maiores pianistas da história (para muitos acima de cracaços como Oscar Peterson, Bud Powell, Duke Ellington, Bill Evans e McCoy Tyner), mas também na seletíssima lista de gênios da música, ao lado de Miles Davis e John Coltrane, ao criar um estilo próprio dentro de um mundo ditado pelas suas próprias regras.

Logo após sua passagem pela banda de Hawkins, mas ainda antes do sucesso de público, Monk gravou discos antológicos pela Blue Note enfileirando clássicos como ‘Off Minor’, ‘Round about Midnight’ e ‘Epistrophy’. Mas para o mercado, Monk ainda não havia passado no teste. A grande virada na carreira viria em 1955 com seu primeiro disco pela Prestige só com temas de Duke Ellington, na época já um ícone da música americana. Com músicas como ‘Mood Indigo’ e ‘I got it bad’, o disco ‘Plays Duke Ellington’ traduziu o estilo Monk para ouvidos menos acostumados a experimentações catapultando sua carreira.

A consagração de Monk como grande compositor, no entanto, só viria em 1957 com ‘Brilliant Corners’, até hoje considerado não só um dos seus melhores discos, mas também um dos maiores clássicos da história do jazz. Na banda, um timaço em que brilhavam Sonny Rollins e o baterista Max Roach (Paul Chambers, baixista de Miles Davis, fez participação especial em ‘Bemsha Swing’). Monk ainda gravaria álbuns históricos como ‘Straight no Chaser’, em 1967, antes de abandonar os palcos nos anos 70 vítima de doença mental. A playlist tem todos seus grandes clássicos, mas no caso de Monk, nada como um bom vídeo. Abaixo, trecho do documentário dirigido por Clint Eastwood.



Mulatu Astatke - Steps Ahead (2010)

Se é possível medir o nível de popularidade de um músico pela velocidade em que os ingressos para seus shows se esgotam, podemos dizer que o etíope Mulatu Astatke, pai do ethio-jazz, é um fenômeno da música africana. As entradas para seus primeiros shows no Brasil, realizados em março, em SP, acabaram em 1h50. E olha que os organizadores já tinham se prevenido marcando duas apresentações, nem isso foi suficiente e muita gente agora torce por uma segunda chance. Nada mal para um pianista de 68 anos com um som totalmente não convencional.

Estrela da música etíope, mas pouco conhecido fora da África até os anos 90, Mulatu Astatke começou a viver uma reviravolta em sua carreira a partir da série francesa de CDs ‘Ethiopiques’. Logo depois, foi um dos destaques na trilha do filme ‘Broken Flowers’, de Jim Jarmusch, e acabou virando referência para novos nomes da música black nos EUA e Europa. O ponto alto nesse revival foram seus shows ao lado dos ingleses do Heliocentrics, em 2009, no projeto ‘Inspiration Information’, da gravadora inglesa Strut (o mesmo que já havia juntado Tony Allen e Jimi Tenor).

Só que em plena forma Mulatu Astake queria mais do que apenas relembrar clássicos como ‘Yekermo Sewe’ e ‘Yègellé Tezeta’. Considerado um dos melhores discos de 2010, ‘Steps Ahead’ une músicos etíopes, integrantes do Heliocentrics e novos nomes do jazz britânico. Três músicas das nove do álbum estão na playlist. Abaixo, entrevista com Mulatu no programa 'Metropolis', da Cultura, e trecho do show com o Heliocentrics, em Londres.



Medeski, Martin & Wood – Radiolarians II (2009)

Primeiro é bom deixar claro: os caras adoram experimentar e no mesmo disco podem aparecer pianos tranquilos, guitarras distorcidas e baterias enfurecidas. Só que é inegável que quando o trio de NY Medeski, Martin & Wood (DJ Logic é o ‘quarto elemento’) acerta, é sonzeira black de vanguarda para fazer a cabeça voar longe. Gosta de Bad Blus? Soulive? É por aí, e muito mais... jazz moderno, experimental, provocativo. 

Lançado em 2009, ‘Radiolarians II’ é o segundo disco de uma trilogia que culminaria com ‘The Evolutionary Set’, edição especial com versões de DJs, gravações ao vivo e o documentário ‘Fly in a bottle’, filmado por Martin (veja abaixo trechos). A música que fecha 'Radiolarians II', ‘Baby let me follow you down’, é um jazz delicioso clima final de tarde para ouvir baixinho. Só que aí experimenta ‘Flat Tires’, que abre o álbum... é o mesmo grupo? Pode acreditar. A dica então é filtrar o disco com calma, peneirar os exageros, dar também um check em discos como ‘Combustication’, e ver que o trio tem material suficiente para encher várias playlists. Comece então com as preferidas do blog. Para abrir, um medley unindo Thelonious Monk e Bob Marley. 


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