23.9.11

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Eric Clapton e Wynton Marsalis – Play The Blues - Live From Jazz At Lincoln Center (2011)

Pense em um guitarrista, qualquer um ainda em atividade; depois, escolha um jazzista para um show histórico em uma super casa de espetáculos. Talvez, nem em sonho a ideia chegasse tão perto da perfeição quanto o projeto de reunir Eric Clapton e Wynton Marsalis, no Lincoln Center, um complexo com salas de concerto, estúdios e clube de jazz no coração de Manhattan, em NY, tocando só clássicos do blues em versão dixieland. A noitada de gala aconteceu ao todo quatro vezes, três em abril e uma última agora em setembro. Os melhores momentos das apresentações, com repertório escolhido por Clapton e arranjos de Marsalis, foram reunidos em CD e DVD e acabam de ser lançados.

Winton Marsalis, para quem não está familiarizado, é um dos melhores trompetistas das últimas safras, diretor do ‘Jazz at Lincoln Center’ e um grande pesquisador musical já tendo lançado discos sobre as raízes do jazz e da música clássica (foi, aliás, o primeiro músico a ser indicado nas duas categorias do Grammy no mesmo ano). E quem já o viu ao vivo sabe que no palco ele é ainda melhor. Já Eric Clapton, bem... o apelido ‘God’ já diz tudo. Depois de tocar em projetos com B.B. King, J.J. Cale e Steve Winwood, Clapton partiu para realizar o sonho de tocar em uma banda de jazz e admitiu até certo nervosismo antes de subir ao palco.
‘Nunca fiz nada assim em toda a minha vida. Quando era criança eu queria participar de uma banda de jazz, mas a guitarra me levou para outro caminho’.

Clapton e Marsalis já haviam tocado juntos, em 2003, no Apollo Theater, ao lado de Ray Charles, B. B. King e Willie Nelson, no show ‘Blowin The Blues Away’; e depois novamente no disco ‘Clapton’, de 2010; mas o dueto em um show completo foi o primeiro.

Para acompanhar os dois no palco, uma banda de jazz clássica com seis integrantes da Jazz at Lincoln Center Orchestra, mais dois músicos convidados, o tecladista Chris Stainton (que se apresenta com Clapton desde 1979) e Don Vappie, um dos fundadores da Creole Jazz Serenaders. No set list de Clapton entraram 13 músicas, entre elas clássicos como ‘I'm Not Rough', de Louis Armstrong, ’Careless Love’, sucesso com Bessie Smith, ‘Forty Four’, de Howlin' Wolf, ‘Corrine Corrina’, que teve participação especial de Taj Mahal, e até uma versão blues para ‘Layla’. Ouça seis músicas na playlist e prepara o bolso porque o DVD é daqueles obrigatórios para se ter nem casa. Abaixo, um trecho do show e bastidores dos ensaios.

 



Jay Jay Johnson – The Eminent Jay Jay Johnson, Volume 2 (1956)

‘Eu sabia que o trombone podia ser tocado de uma maneira diferente e que algum dia alguém faria isso. Você está escolhido’. Foi assim que Jay Jay Johnson recebeu o convite de Dizzie Gillespie para tocar em sua banda nos anos 40. Era só o início: o músico de Indianápolis, nascido em 1924, ficaria famoso como um dos pilares do bebop tocando ao lado de nomes como Sonny Rolins, Bud Powell, Hank Jones, Max Roach e ainda no noneto do revolucionário ‘Birth of the Cool’, de Miles Davis. Até Jay Jay Johnson, muitos achavam que era impossível para um trombonista assumir o papel de líder em uma banda de jazz. Johnson não só conseguiu liderar com extremo sucesso seus próprios quartetos e quintetos, como também foi uma espécie de ‘tradutor’ para o trombone das revoluções que nomes como Miles Davis e Charlie Parker faziam com o sax.

Johnson produziu discos definitivos na história do jazz: um deles é ‘Proof Positive’, de 1964, com participações do pianista McCoy Tyner e do baterista Elvin Jones. Mas os que ficaram como marca registrada na sua discografia são os dois da série ‘The Eminent Jay Jay Johnson’. No Volune 1, ele aparece acompanhado pelo incrível Clifford Brown em um álbum que acabaria virando referência no jazz moderno;  já no Volume 2 (ouça cinco músicas na playlist), Johnson brilha inspiradíssimo em duas sessões de seis músicas cada, primeiro à frente de um quinteto que incluía o baixista Charles Mingus; depois, em um timaço com o tenor Hank Mobley, o pianista Horace Silver, o baixista Paul Chambers e o baterista Kenny Clarke. Jazz incendiário, alegre e cheio de groove. Se existe uma seleção de todos os tempos do jazz, a ‘posição’ trombone já tem dono. 



Geraldo Pino and the Heartbreakers – ‘Heavy, heavy, heavy’ (2005)

Dono de um hotel e um canal de TV na Nigéria, Geraldo Pino foi talvez o grande popstar da música na África no final dos anos 60 circulando em carros conversíveis e usando roupas cheias de brilho. Pino era uma espécie de James Brown da costa oeste adaptando para o groove local o estilo Motown em músicas como ‘Maria Left for Waka’, ’Heartbeats Merengue’ e ‘Zamzie’. Até o ‘black president’ Fela Kuti entrou na onda e virou fã. Em entrevista realizada já nos anos 80, Kuti lembrou: ‘Quando ele chegou em Lagos cantando, ‘Hey, hey, I feel all right, ta ta ta ta... ninguém mais queria ouvir mais nada além dos Heartbreakers’.

A fama de Geraldo Pino chegou a tal ponto que hits como ‘Power to the People’, ’Give Me Ganja’, ’Let Them Talk’ e ‘Make Me Feel Good’ o mantiveram em turnê quase ininterrupta por países como Nigéria, Benin, Camarões, Costa do Marfim e Gana entre 1965 e 1967. Depois, Pino morou na capital de Gana, Accra, antes de se estabelecer em Lagos, na Nigéria, onde ainda tocaria com Fela, seu sucessor.

Apesar do imenso sucesso na África, Geraldo Pino não chegou nem perto da popularidade e impacto da música de Fela na Europa e EUA. A coletânea ‘Heavy, heavy, heavy’, lançada em 2005, pela Retroafric, ajudou a resgatar um pouco da sua história tirando o músico do ostracismo. No mesmo ano, a Soundway relançou dois álbuns de Pino na íntegra, ‘Let´s have a party’ e ‘Afro Soco Soul’. Em 2008, ele ainda se apresentaria junto com Seun Kuti no Barbican, em Londres. Quem esteve lá diz que Pino mantinha o estilo James Brown dos anos 60, mas sem o mesmo gás. Não importa, ficou marcado como uma despedida merecida de um público que ele jamais conquistou em vida, mas que começa agora a conhecer o peso dos seus discos e a reconhecer sua importância dentro do afrobeat. Ouça na playlist seis músicas da coletânea e abaixo fotos ao som de 'Heavy, heavy, heavy'. Atenção na classe do pianinho.



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