23.3.12

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Raul Seixas – Sessão das Dez (1971)

Figuraço, talentosíssimo, desbravador, revolucionário, controverso. Personagem dos mais ricos e surpreendentes da música brasileira, o baiano Raul Seixas morreu em 1989, aos 45 anos, deixando mais de 400 músicas e 30 discos. Tem tantas histórias que cada álbum seu daria facilmente um filme. Na semana em que a dupla Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel estreia nas salas de cinema ‘O Início, o Fim e o Meio’, documentário sobre vida e carreira de Raul, com enorme material de arquivo e imagens raríssimas de programas de TV e vídeos de família, o blog entra no clima e também toca Raul escolhendo um de seus álbuns mais cultuados e menos conhecidos.

Sempre ouvi dizer que ‘Sessão das Dez’, de 1971, havia sido feito escondido enquanto produtores da multinacional CBS viajavam. Mas matéria excelente de João Pimentel, do Globo, de 2010 (quando o disco foi relançado pela Sony) desmentiu o mito ouvindo o único personagem ainda vivo entre os quatro autores do disco: o baiano Edy Star, que desde 1982 mora em Madri (Sérgio Sampaio e Míriam Batucada morreram em 1994).

- As gravações duraram 15 dias, com hora marcada no estúdio e anuência do diretor artístico da CBS. Recordo as tardes de reuniões para compor, e que todas as minhas músicas foram riscadas pela Censura Federal, disse Star na matéria do Globo.

Apresentado no início pela autoproclamada Sociedade da Grã-Ordem Kavernista como ‘o maior espetáculo da terra’, o disco de doze músicas, a maioria precedida por vinhetas irônicas (‘tem um hippie em pé no meu portão’ ou ‘eu comprei uma televisão, à prestação’), ‘Sessão das Dez’, de fato, não agradou à gravadora. Muito menos à censura. Também não fez sucesso com o público e nem show de lançamento teve. Mas em 2010 o disco foi reeditado pelo jornalista e produtor Rodrigo Faour, já como um dos álbuns mais cultuados e adorados pelos fãs que querem ir mais fundo na obra de Raul e não se contentam com os clássicos de sempre das coletâneas e tributos.

A dupla Sampaio e Seixas assina e canta a maioria das músicas. Edy e Miriam são autores e vocalistas em duas faixas (ela nas excelentes ‘Chorinho Inconsequente’ e ‘Soul Tabaroa’, a única composta por alguém de fora do quarteto, Antonio Carlos Jocafi). ‘Sessão das Dez’ é daqueles discos para se ouvir inteiro, de preferência na ordem em que as faixas foram gravadas. E tem algumas joias, como ‘Eu vou botar para ferver’, ‘Todo mundo está feliz’ e ‘Aos trancos e barrancos’.

- Vejo no disco uma influência do ‘Tropicália’, de 1968. Mais caótico, sem objetivos intelectuais, mas centrado na crítica ao movimento hippie, ao desbundismo, ao conformismo, afirma Rodrigo.

‘Sessão das Dez’ é tão clássico que está inteirinho na playlist.

Veja abaixo trechos do documentário de Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel. Entre os amigos de Raul, estão Paulo Coelho, principal parceiro e por ano desafeto; além de Caetano Veloso, Tom Zé, Zé Ramalho, Pedro Bial e Roberto Menescal, entre outros. 

Programão certo para colocar na agenda: assistir ao documentário esquentando com o disco. Toca a playlist e vai ver Raul!




Bibi Tanga & The Selenites – Dunya (2010)

Ayo é de origem nigeriana, nasceu na Alemanha, morou em Londres e Paris. De Uganda, Jaqee se destacou na Suécia, foi para Berlin e lançou disco na França. Já Nneka e Asa vieram da Nigéria para explodir na Alemanha. Debate polêmico que mobiliza esquerda e direita na Europa, a forte imigração africana ajudou também a transformar a música no continente nos últimos anos com um nova leva de artistas que apostam na mistura de soul, funk, reggae e hip-hop para chegar ao topo nas listas das músicas mais tocadas com um som grooveado cheio de referências black.

Bibi Tanga é mais um nome para se prestar atenção. Filho de imigrantes da República Centro-Africana, criado entre os subúrbios de Paris e bairros da margem sul do Rio Sena, o cantor, produtor e baixista mistura Curtis Mayfield com Sly and the Family Stone, mas sua principal fonte é o afro-futurismo de Sun Ra e a levada funky de George Clinton. ‘Dunya’ é seu terceiro disco, mas o primeiro tocando com os Selenites e o dj Professeur Inlassable. Com letras e rimas feitas em inglês e em sango, seu som tem momentos chill-out e outros mais dançantes, alguns inspiradíssimos, outros que deslizam demais para o pop. Mas vale ficar de olho. A proposta de misturar p-funk com raízes afro, soul e hip-hop, é um achado. Na playlist, as melhores de ‘Dunia’. Sequência começa com uma que já tem lugar cativo na playlist das festas: ‘Red Wine’, abaixo ao vivo em programa na TV francesa.





Fela – Live in Detroit 1986 (2012)

Fela Kuti e sua república de Kalakuta sempre foram inimigos declarados dos ditadores que passaram pela Nigéria. Tony Allen, Pax Nicholas, Oghene Kologbo, todos ex-integrantes das bandas de Fela, buscaram refúgio na Europa durante os anos 70 e 80, e alguns dos seus músicos não voltaram deixando o Africa 70 ou o Egypt 80. O criador do afrobeat perdeu sua mãe, de 82 anos, durante a pior das invasões a Kalakuta pelos soldados do governo, em 1977. Depois, foi morar em Gana, exilado, mas sempre que podia retornava a Lagos. Foi assim quando o país viveu relativa paz entre 1980 e 1983. Nesse ano, porém, a Nigéria de novo voltou a viver período de intensa repressão e Fela acabou condenado a uma década de prisão. Só conseguiu sua liberdade após intensa pressão da Anistia Internacional. 

Com lançamento previsto para maio, pela Strut (em cd duplo ou vinil quádruplo), Live in Detroit’ foi gravado em 1986 em uma das primeiras apresentações de Fela após o período na prisão. Mostra o nigeriano de novo afiadíssimo no palco. Se nos álbuns de estúdio as faixas já costumam ser longuíssimas, no disco ao vivo elas ultrapassam sempre os 25min chegando a 40min em ‘Confusion Break Bones’. Além dessa, o 'Live in Detroit' tem ainda o clássico ‘Teacher dont Teach me Nonsense’, e duas que não estão entre seus maiores sucesso, ‘Just Like That’ e ‘Beats of no Nation’, mas que no palco e com o público incendiado crescem demais. Sempre ótima notícia um disco de inéditas de Fela Kuti. Veja abaixo trecho do show de 1984, em Glastonbury, já com o filho Femi Kuti tocando sax.


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