5.11.12

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Ex-Stereo Maracanã vira 'embaixador' da música brasileira em Paris (Oblogblack no Amplificador do Globo)

Luis Melodia, Elza Soares, Tulipa Ruiz, Marcelinho da Lua, Negralha, DJ Tudo... Todos passaram por palcos de Paris nos últimos anos com o mesmo produtor, o multitarefas, DJ, rapper e compositor Pedro D-Lita, ex-Stereo Maracanã. Morando na capital francesa há seis anos, o músico carioca produziu todas as apresentações do próprio bolso, às vezes com ajuda de amigos e sempre com muitos contatos.
Criador do selo B•Mundo - ‘de música, arte e concepção’ – D-Lita começou a trajetória de agitador cultural parisiense praticamente do zero, em 2006, alugando espaços para festas, até ser convidado para organizar a noitada de encerramento do festival de Cinema Brasileiro em Paris. Depois, virou DJ residente no Favela Chic e no Alimentation Générale, outra casa badalada na cidade luz. Com festas bombando e forte divulgação nas redes sociais, D-Lita deu o passo seguinte: produzir shows de grandes nomes da MPB em lugares clássicos como New Morning, Studio L-Ermitage e Satellit Café. Em março, na apresentação da Orquestra Voadora no ALG, as filas davam voltas no quarteirão e a casa ficou abarrotada. Detalhe: o público era formado essencialmente por estrangeiros.


- Tem muito francês que conhece música brasileira. Agora, com economia crescendo, Copa, Olimpíada, os estrangeiros ouvem que o Brasil está bombando e querem conhecer os novos sons, explica D-Lita, que ataca também como DJ em festas bimestrais da B-Mundo em La Villette, Cabaret Sauvage e Bellevilloise.



Só que nosso novo ‘embaixador’ em Paris não esqueceu seu lado músico: continua compondo, tem projeto ‘transatlântico’ com Yuka – ‘queremos criar uma linguagem de ‘afro dub brasileiro’ - e colabora ainda como produtor musical do grupo ‘afro-parisiense’ Ilê de Irôko. Abaixo, D-Lita fala sobre seus mil e um projetos, nova música brasileira e o Exiles Beats, projeto com Yuka.

Como foi o começo da sua história com Paris?
Minha primeira viagem para França foi em 1997, passei sete meses, mas no espírito aventura. Depois, voltei em 2004 e em 2005, no ano do Brasil na França. Foi bom que eu pude chegar e ir sentindo a cidade de outra maneira, conhecendo os lugares e me familiarizando aos poucos com a cultura. Já estou morando direto em Paris há seis anos.


Você já foi com esse objetivo de criar um selo e produzir shows?
Sempre tive esse objetivo de trabalhar com a promoção da música contemporânea. Em 2007, cheguei com esse plano na cabeça, mas logo senti falta de lugares que tivessem esse espírito em Paris. Então, criei a B•Mundo para propor festas para casas de médio porte. Queria também aproveitar de alguma maneira o fluxo de artistas brasileiros de passagem por Paris, que não é pequeno.


Você começou pelo Favela Chic?
Comecei alugando espaços, barcos, um projeto itinerante de festas. Depois, já através do B•Mundo, coproduzi a festa de encerramento do festival de Cinema Brasileiro em Paris e aí passei a ter uma residência com a nossa primeira festa ‘Samba Soul’, no Alimentation Générale. Consegui reunir muita gente através das redes sociais, distribuição de flyers e cartazes. Só aí apareceu o Jonathan Chaoul, do Favela Chic. Criei então o ‘Baile Bom’ e passei a ter dois canais em Paris para música brasileira. Levei nomes como Negralha, Tulipa, Aleh Ferreira convidando Thais Gulan, Zantar Reggae, e alguns projetos musicais que fiz especialmente para as festas, como ‘As Pretas’, com Cristina Violle e Luma Lourenço, cantoras brasileiras radicadas em Paris. E junto fazia a discotecagem para me divertir. Falo publicamente que não sou DJ, tenho uma boa seleção musical e conheço a vibe das casa.





E Luiz Melodia, Elza Soares... nomes grandes, como funciona o patrocínio?
São shows que precisam de muito esforço e ainda não descobri o caminho das verbas. Por enquanto, vem tudo do meu bolso. Fiz empréstimo bancário e convenci amigos próximos a correrem o risco de coproduzirem comigo, mas estamos realmente precisando de incentivadores financeiros.


Como vê a cena atualmente em Paris para o Brasil?
Paris é capital da música do mundo, tem muita oferta, são shows de todos os gêneros acontecendo todos os dias, mas acredito que a música brasileira será sempre bem recebida. O Favela Chic continua fazendo muito sucesso, mas o conceito Brasil já não está tão intenso como era antes. A Rosane Mazzer e o DJ Gringo da Parada, que são os fundadores, fazem uma festa brasileira mensal. E tem ainda alguns eventos com tema Brasil por Paris. A produtora Regina Del Papa, que trouxe o Criolo, também organiza eventos interessantes.





Acha que você agora está mais produtor do que músico? Quantas vezes têm vindo ao Brasil?
O artista hoje tem que saber se autoproduzir, isso é uma necessidade do atual mercado. Estou agora totalmente mergulhado nas atividades do meu selo, mas buscando material para um disco solo, quero contar com várias participações. Mas não tenho planos de voltar para morar, o exílio produtivo ainda vai demorar um pouquinho. Além dos shows e festas, tenho feito também produção para o grupo afro Ilê de Irôko, inspirado na nação nagô. É liderado pela Priscilla Borel, que trabalha com cultura popular desde os 12 anos e participou de vários folguedos em Pernambuco, como Estrela Brilhante, e o afoxé Oxum Panda et Oya Alaxé. Do grupo, só Mestre Pessoa, que foi um dos fundadores, já voltou para Pernambuco. Estou produzindo uma demo de seis faixas para o grupo, estamos ensaiando e lapidando o material. A ideia é entrar em estúdio para gravar quatro faixas, e depois mais duas em Recife com as participações de Maria Helena Sampaio (Afoxé Oya Alaxé), Mestre Pessoa e Jorge Riba. Gostaria de contar também com a participação do DJ Tudo.


E o Stereo Maracanã?
Continua sem a minha participação. Fizemos shows juntos aqui na Europa em 2008 e 2009. Agora estou trabalhando em um novo projeto. Quem sabe ano que vem fazemos algumas apresentações no Brasil. Tenho conversando muito também com o Marcelo Yuka. A ideia é criar uma linguagem chamada ‘afro dubs brasileiros’. O disco vai ter uma produção ‘transatlântica’ e já tem nome dado pelo Yuka: Exiles Beats. Quero compor inspirado na minha vivência em desfiles e ensaios de blocos afros da Bahia e outras referências da música negra brasileira, como candomblé e tamborzão de funk carioca.




Sempre se fala que os franceses adoram a música do Brasil. Como tem sido a recepção para bandas novas como Orquestra Voadora, Tulipa, DJ Tudo?
Tem uma parte que gosta mesmo é do oba-oba, de bunda, cachaça, mas tem muitos estrangeiros que escutam falar que o país está bombando e querem saber o que esta acontecendo musicalmente no Brasil. A Orquestra Voadora foi muito bem recebida, por um público parisiense bem bacana. Mas também porque fez um trabalho de base, chegou antes da data, fez algumas apresentações com uma banda de fanfarra francesa. A Tulipa, nas duas vezes, teve um bom público especializado curioso para conhecer o trabalho dela. Já o DJ Tudo e Jam da Silva são muito respeitados na Europa.
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