16.12.11

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Hank Mobley - No Room for Squares (1963) 

Nova York sempre concentrou uma quantidade enorme de músicos geniais por quilômetro quadrado freqüentando os mesmos shows, bares e festas. Boa dica então para antecipar o potencial de um bom disco de jazz e descobrir CDs daqueles obrigatórios para coleção é olhar com atenção a banda que acompanha o autor que assina o disco, ali podem estar verdadeiras seleções convocadas especificamente para tocar naquele projeto e depois em jams ao vivo. Ao contrário de quartetos e quintetos fixos, como as bandas de Miles Davis, Thelonious Monk e John Coltrane, são grupos de alta rotatividade formados somente para tocar composições criadas naquele período. É comum então ver nomes como Jimmy Smith, Grant Green, Art Blakey, Donald Byrd, Joe Henderson, Blue Mitchell e outros se revezando tocando uns nos discos dos outros.

É o caso do excelente ‘No Room for Squares’, de 1963, do já genial - e pouco reconhecido - Hank Mobley, um dos grandes saxofonistas do harbbop com passagens pelos grupos de Dizzy Gillespie, Horace Silver e Miles Davis. Nesse disco (como na grande maioria dos projetos gráficos feitos pela Blue Note nos anos 60) a escalação está lá na capa, escancarada, não fica nem tão complicado identificar logo de cara que é quase impossível não sair dali uma super sessão. A escalação começa com ninguém menos que o genial Lee Morgan, que assina duas das seis faixas e no mesmo ano gravaria um dos melhores discos de jazz de todos os tempos, ‘Sidewinder; no piano, o grande Herbie Hancock em começo de carreira, um ano após seu disco de estreia, ‘Takin’ Off’, e  em meio à gravação do excelente ‘My Point of View’; no baixo, o ex-Thelonious Monk, John Ore, e ainda Donald Byrd, Butch Warren, Andrew Hill e fechando o timaço, o ex-Miles Davis, Charlie Parker e Dizzy Gillespie, Philly Joe Jones. Por aí já dá para esperar improvisações inspiradíssimas guiadas por temas de Mobley altamente influenciados pelo efeito John Coltrane no jazz. Hardbop carregado de blues.

Do mesmo Hank Mobley, mais dois discos também da década de 60 são fundamentais na lista dos melhores álbuns de hardbop: ‘Soul Station’, de 1960, que marca sua estreia como líder, acompanhado dos cracaços Art Blakey (bateria), Paul Chambers (baixo) e Wynton Kelly (piano); e ‘A Caddy for Daddy’, de 1965, esse já altamente influenciado pelo groove black do funk que dominava os EUA.  Todos altamente recomendados. 


  
Stephen Malkmus and The Jicks - Mirror Traffic (2011) 

Guitarrista ex-líder do Pavement, Stephen Malkmus reaparece com seu projeto solo à frente do The Jicks com um dos melhores álbuns roqueiros do ano e certamente no nível de qualquer um dos seus discos anteriores que marcaram a cena indie na década de 90. Aos 45 anos, músico de mão cheia e criador de sonoridades complexas, pouco óbvias e até certo ponto estranhas, Malkmus soa mais solto e relaxado nesse quinto disco com os Jicks. Essa talvez seja a melhor qualidade do álbum: descomplicar faixas sofisticadas e transformá-las em canções acessíveis, às vezes próximas do seu trabalho no Pavement, mas ao mesmo tempo longe de repetir fórmulas. A parceira com o Beck (‘Odelay’ e ‘Mellow Gold’), em excelente forma criativa, ajudou a suavizar o espírito experimental de Malkmus. Com sacadas poéticas e irônicas, ‘Mirror Traffic’ consegue ser crítico, excêntrico, básico e até nonsense, tudo na medida certa.

A volta do Pavement para turnê mundial pensada a partir da coletânea ‘Quarantine The Past’ (com shows feitos inclusive no Brasil) acabou atrasando um pouco o lançamento ‘Mirror Traffic’. A banda tocou com os mesmos integrantes da formação original. Ao contrário do que muitos fãs esperavam, a reunião não rendeu outro disco inédito (o último foi 'Terror Twilight', de 1999).

Veja abaixo clipe da música ‘Senator’, de ‘Mirror Traffic’, com Jack Black vivendo o papel de um político corrupto; e depois duas de Malkmus tocando com o Pavement em São Paulo. 



Batatinha - Samba da Bahia (1973) e Diplomacia (1998)

Paulinho da Viola comparou Batatinha aos geniais Cartola e Nelson Cavaquinho em texto para contracapa do disco ‘Samba da Bahia’, de 1973. Foi o primeiro registro em vinil do sambista de Salvador, dividindo o álbum com parceiros das antigas do Pelourinho, Riachão e Panela. Antes, Jamelão já havia gravado ‘Jajá da Gamboa’ e Glauber Rocha usado ‘Diplomacia’ no filme ‘Barravento'. Maria Bethânia foi além. Apaixonada pela obra de Batatinha, que ganhou fama em Salvador ao brilhar em concursos de calouros em rádios locais, Bethânia juntou duas músicas suas em seu primeiro disco e dedicou a ele um bloco inteiro do show ‘Rosa dos Ventos’. Foi aí que, fechando o ciclo, apareceu Paulinho da Viola para dar o empurrão definitivo na afirmação de Batatinha como grande compositor da MPB ao produzir ‘Samba da Bahia’. Era a primeira vez que Batatinha cantava suas próprias composições – ‘tristíssimas para um dia de carnaval’, como disse a irmã de Caetano. 

A ideia de Paulinho da Viola era apresentar uma nova geração de sambistas baianos até então pouco conhecidos no eixo Rio-SP (apesar dos esforços de Jamelão e Bethânia). Além de Batatinha, ‘Samba da Bahia’ traz as clássicas ‘Cada Macaco no seu Galho’ e ‘Vou Chegando’, de Riachão, e ‘O Patrão é meu Pandeiro’, de Panela. O disco foi todo gravado em um estúdio improvisado no teatro Vila Velha.

Pioneiro ao misturar samba e capoeira e totalmente avesso à fama, Batinha morou no Pelourinho durante toda sua vida. Morreu em 1997, aos 72 anos, pouco depois de gravar o disco ‘Diplomacia’, seu primeiro álbum individual produzido após pesquisa fundamental da dupla Paquito e J. Veloso registrando músicas nunca antes gravadas.

Após sua morte, o músico virou nome do circuito de blocos de carnaval que passa pelo Pelourinho e foi homenageado com dois documentários: ‘Batatinha e o Samba Oculto da Bahia’ e ‘Batatinha – O Poeta do Samba’. Veja abaixo trechos dos filmes e também do excelente programa 'Ensaio'. 

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