18.5.12

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Kashmere Stage Band - Texas Thunder Anthology, 1968 - 1974 (2011)

Final dos anos 60, movimento funk pegando fogo com James Brown cheio de moral e fama de semideus para negros nos EUA. Tempo de psicodelia, solos incendiários de Jimi Hendrix, improvisações e misturas de Miles Davis, e jovens black-flower-power pirando em todos os tipos de arte. Em Houston, Texas, estado do ex-presidente Bush e na época um dos mais racistas dos EUA, um professor de música ex-integrante da banda de Count Basie voltava de um show de Ottis Redding quando teve a ideia que mudaria sua vida: transformar a orquestra da escola formada em sua grande maioria por estudantes negros de menos de 18 anos em uma bigband de funk. O projeto deu tão certo que a Kashmere Stage Band ganhou fama em todo país ao ficar praticamente invencível em duelos arrepiando com sets de funk, soul e jazz. Conrad Prof Johnson foi diretor, arranjador e compositor do combo que chegou a tocar com quase 30 integrantes antes de encerrar carreira no final dos anos 70. Muitos de seus integrantes então deixaram a música, mas não para sempre. 

Em 2003, os discos da KSB começaram a ser relançados, muitos deles praticamente inéditos, e a fama da orquestra voltou a se espalhar. O ponto alto, no entanto, aconteceria em 2011 com o documentário 'Thunder Soul', produzido por Jamie Foxx (de 'Ray'). Premiado em vários festivais de cinema pelos EUA e Europa, o filme registra o reencontro de Conrad, então com 92 anos, com sua antiga black band para apresentações impregnadas de groove e muita emoção. Junto com o doc, a Now Again Records lançou o discaço 'Anthology – 1968-1974' resgatando gravações originais da banda em seu auge com pegada similar aos JBs e Funkadelic. Há no álbum ainda versões black para clássicos da música americana como 'Raphsody in Blue' e 'Take 5'. Se você curte deepfunk, vale encomendar no site da gravadora (vinil triplo ou CD duplo +DVD). Detalhe: ambos os combos acompanham livreto caprichadíssimo recheado de fotos e o curta-metragem 'Texas Jewels: The Making of Texas Thunder Soul', produzido por ninguém menos que o agora superstar da música eletrônica Flying Lotus. 

Veja abaixo trailer de 'Thunder Soul' e tire a prova. Os garotos tocavam muito. E, no doc, os agora vovôs não perderam o groove e também quebram geral. Belos solos, improvissos geniais e groove pesadíssimo. 





Elmore James - Whose Muddy Shoes (1960)

Inspiração para músicos como BB King e Chuck Berry e eleito para o Hall da Fama por sua influência no rock, o americano do Mississippi Elmore James, rei da slide guitar, já havia sofrido dois infartos antes da parada cardíaca fatal em 1963, com apenas 45 anos. Logo depois, roqueiros como Rolling Stones, Cream e Yardbirds colocariam o blues na moda jogando luz sobre nomes até então pouco falados que virariam ídolos de jovens na Europa e EUA como Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Elmore James certamente seria um dos mais celebrados pelos novos fãs.

Disco de 1960, 'Whose Muddy Shoes' tem músicas de duas sessões, uma gravada no mesmo ano e outra de 1953, ambas com grandes blueseiros na retaguarda como Little Johnny Jones no piano, JT Brown no sax tenor e Homesick James acompanhando na guitarra base. Estão lá também todos seus clássicos como 'Stormy Monday', famosa depois em versões de Eric Claton e Buddy Guy, 'Sun is Shining', 'Talk to Me Baby', 'Madison Blues', a homônima 'Whose Muddy Shoes', e acima de todas, 'Dust My Boom', seu primeiro hit e um dos maiores clásicos do blues de todos os tempos.

A música black dos EUA teve grandes guitarristas slide como Robert Nighthawk e o excelente Earl Hooker, mas Elmore James de fato merece a coroa. Apesar das gravações muitas vezes sem recursos, sobra talento, o vozeirão é soberbo e os solos carregados de técnica e sentimento. Para ter sempre à mão na estante da sala, com um scotch ainda melhor. Veja abaixo 'Stormy Monday' com Clapton.




Moussa Doumbia – Keleya (2007)

Pérola da música africana e ainda pouco conhecido pelo grande público, o saxofonista Moussa Doumbia morou sua vida quase inteira na Costa do Marfim, mas nasceu no Mali onde era também conhecido como James, provavelmente em referência a James Brown, sua grande influência e primeiro nome a vir a cabeça quando ouvimos petardos gritados, funkeados e psicodélicos como 'Keleya', nome do seu único disco com distribuioção internacional lançado em 2007. Moussa trocou o Mali por Abidjan no começo da década de 70 e durante anos se apresentou no Boule Noir, casa de shows de um francês no bairro movimentado de Treichville. Na época, o fenômeno Fela Kuti ainda não havia conquistado o país vizinho onde quem dava as cartas era o deepfunk de James Brown. Perto do Boule Noir ficavam as maiores gravadoras da Costa do Marfim, como a Lido Musique, Sacodis e Saffiedine. Mas os sons envenenados do saxofonista não faziam a cabeça dos produtores locais mais interessados em gravar discos com influência cubana, então hit na costa oeste africana. Moussa, no entanto, atraiu atenção da Société Ivoirienne du Disque que havia acabado de se estabelecer no país com o músico americano Greg Skelton como diretor artístico. Era a pessoa certa. Com estúdios de gravação e distribuição razoável, a SID gravou entre 1974 e 1978 o funkão pesado de Moussa, só que o sucesso não veio. Seu nome ganharia destaque bem mais tarde, nos anos 90 anos, a partir das coletâneas de música africana como a excelente ‘World Psychedelic Classics’, de 2005. 

Lançado em 2007 pelo selo Oriki Productions, 'Keleya' dá um panorama de toda sua produção nos anos 70. Moussa voltou para França na década de 80, trabalhou em uma loja de discos de salsa, de Richard Dick, e morreu ainda sem ter seu enorme talento reconhecido. Para deixar rolar e esquentar a pista.


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