20.5.11

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Marijata - This is Marijata (1976) 

Raridade que chegou a ser vendido por US$ 2 mil para DJs e colecionadores dos EUA e Europa, ‘This is Marijata’ foi relançado em março pela Academy LPs de NY em edição de luxo com tiragem de 150 vinis, encarte cheio de fotos e capa em sikscreen (mais mil cópias em LP comum). O projeto de resgate desse verdadeiro tesouro da música black, uma mistura de James Brown com Wilson Pickett e Fela Kuti em tons psicodélicos, é todo do DJ alemão radicado no Brooklyn, Frank Gossner, autor do blog Voodoofunk, simplesmente obrigatório para quem gosta de sons africanos. 

Fã incondicional de vinis e garimpador nato de raridades, Frank busca seus LPs direto na fonte através de agentes locais em países da costa oeste da África, como Gana, Senegal, Nigéria, Mali e Benin. Com dezenas de viagens e contatos acumulados, aos poucos passou a fazer também link entre músicos e gravadoras para resgatar discos raros. Essa semana, por exemplo, Frank lança com festa em NY uma coletânea de ‘funk , fast times and nigerian boogie badness’.

Gravado em 1976 pelo trio ganês formado por Kofi ‘Elektric’, Bob Fiscian e Nat Fredua, ‘This is Marijata’ é um dos discos preferidos de Frank, ficou anos restrito ao mercado africano e pouquíssimo divulgado no exterior até finalmente ser redescoberto e relançado. No blog, o DJ avisa que já está em fase final de produção para colocar no mercado o segundo e último LP do Marijata, o ‘disco vermelho’, com Pat Thomas.

(leia entrevista com Frank Gossner no blog Dust and grooves com ensaio de fotos feitas no dia em que chegava mais um carregamento direto da África em três caixas abarrotadas de LPs).

Sabe quando você ouve um som pela primeira vez e pensa: como eu não conhecia isso? Pois é, ‘This is Marijata’, prazer, muuuito bom.





Tout Poussant Orchestre Poly-Rythmo – Cotonou Club (2010) 

Gravadoras e selos dos EUA e Europa descobriram recentemente na África uma fonte praticamente intocada de música black e aos poucos começam a relançar discos raros e coletâneas. O número de fãs, colecionadores e sites especializados em sons africanos disparou e nesse exato momento tem algum pesquisador, agente ou produtor garimpando vinis ou negociando relançamentos de vinis esgotados em cidades como Accra, Lagos, Dakar ou Bamako.

Foi assim que nos últimos dez anos gravadoras como Soundway, World Circuit, Analog Africa e Luaka Bob (representante na Europa dos brasileiros Mutantes e Tom Zé) chegaram a ídolos locais do afrobeat, high life e voodoo, nomes como Ebo Taylor (Gana), Orchestra Baobab (Senegal), Super Rail Band (Mali) e essa incrível TP Orchestre Poly-Rythmo, fundada em 1966 e com status de lenda no Benin.


(TP vem de Tout Poussant, ‘toda poderosa’, prefixo muito usado em bandas e orquestras de países de colonização francesa  e até no futebol; o Mazembe, por exemplo, zebra que ganhou do Internacional no Mundial, também é TP)


Primeiro disco com lançamento mundial da Poly-Rythmo, ‘Cotonou Club’, de 2010, marca a volta da orquestra aos estúdios após intervalo de incríveis 25 anos. Para lançar o disco, que tem participações de celebridades como Angélique Kidjo e dos fãs roqueiros do Franz Ferdinand, os músicos viajaram o ano inteiro em turnê por EUA, Japão e Europa. Com agenda lotada e shows abarrotados, a Poly-Rythmo admite que não esperava ter trabalho reconhecido fora do Benin após tantos anos de estrada (leia entrevista do Afrobeatblog com um dos fundadores da orquestra, Vincent Ahehehinnou).

Antes do disco lançado pela Strut, os alemães da Analog Africa já haviam reeditado dois álbuns da Poly-Rythmo dos anos 70, ‘The Vodoun Effect' e ‘Echos Hypnotiques’. Todos os três discos seguem inéditos no Brasil e devem continuar. 

O mercado para música africana no Brasil ainda é limitado, informações sobre bandas do passado e do presente quase não circulam, gravadoras investem pouco e o que predomina na maioria do público ainda é uma visão estereotipada. Por isso, é de se comemorar a criação de festivais como o Percpan, antenadíssimo, e palco ano passado de uma apresentação histórica da Poly-Rythmo.

Pouco antes do show, em novembro, no Rio, o DJ Maurício Valadares escreveu no blog do Ronca Ronca: ‘É uma oportunidade única, algo parecido com o primeiro show do Franz Ferdinand no Circo, do Echo no Canecão, de Miles no Municipal em 74, de McCartney no Maracanã, de Neil Young no Rock in Rio, portanto, não pense duas vezes!’

Veja abaixo trecho do show no Oi Casa Grande e ouça na playlist músicas dos três discos. Mas para começar um minidoc francês sensacional com imagens do Benin e ensaios da Poly-Rythmo. Aumenta que isso aí é afrobeat e funk africano da melhor qualidade. 




Paulinho da Viola - Memórias Chorando e Memórias Cantando (1976) 

Gravados ambos em 1976, os discos ‘Memórias Chorando’ e ‘Memórias Cantando’ mostram os dois lados do mestre Paulinho da Viola: o de compositor de mão cheia autor de sambas históricos e o de excelente músico, herdeiro direto do talento do pai, o violinista César Faria, do grupo Época e Ouro criado por Jacob do Bandolim.

Dividindo em ‘Memórias’ a paixão pelo samba e pelo choro, um Paulinho da Viola em plena forma apresenta canções que ficariam na história, como ‘Perdoa’ e ‘Meu novo sapato’, e clássicos de mestres como Noel Rosa, Pixinguinha, Ary Barroso e Benedito Lacerda tocados ao lado do pai. 

Com craques das cordas e sopros em todos os instrumentos, como Copinha, Cristovão Bastos, e Elton Medeiro, ‘Memórias Chorando’ mereceu na época a seguinte crítica de José Ramos Tinhorão, no Jornal do Brasil: 

'Após alguns anos de carreira, qualquer cantor, músico ou compositor começa a pensar seriamente na possibilidade de produzir pelo menos um disco perfeito. Pois Paulinho da Viola acaba de conseguir dois, de uma só vez'. E não precisa dizer mais. Obrigatório. 





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