24.6.11

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London Afrobeat Collective – L.A.C. (2010) 

Com três anos de estrada puxando a cena black inglesa e pouco mais de seis meses após seu álbum de estreia, o elogiado L.A.C., a London Afrobeat Collective se prepara para o seu show mais importante: fechar amanhã, dia 25, a programação do palco West Holt no tradicionalíssimo Festival de Glastonbury, na Inglaterra. Para sentir o peso da responsabilidade, basta dizer que no mesmo local tocam Janelle Monae, que passou por aqui abrindo para Amy Winehouse, Heliocentrics, Mulatu Astatke, Cee Lo Green, Kool & the Gang e Hidden Orchestra.

Combo formado por doze músicos de várias partes do mundo, de Zanzibar a Lagos e Los Angeles, a L.A.C. tem entre seus admiradores pesos pesados da black music, com alguns inclusive eles já dividiram o palco, como o tecladista do Egypt 80, de Fela Kuti, Dele Sosimi. O primeiro disco da banda saiu em setembro com participações nos vocais de três nigerianos: Wale Ojo, Dele Sosimi (Femi Kuti) e Inemo Samiama (Ray Lema, Tony Allen). Mas é no instrumental que o groove da banda pega pesado. Ouça o disco completo no site (atenção nos solos na parte final de ‘So Much Trouble', primeira música); e veja abaixo trecho de show em Londres.

 
Son House - The Original Delta Blues (1998) 
Charley Patton - Founder of the Delta Blues (1969)

'Juke joint' é aquele bar clássico de filme americano da década de 30 com muito blues, dança, fumaça, pôquer, uma versão gringa do nosso boteco com roda de samba. Foi nesse cenário ‘whysky and women’ que surgiram as primeiras grandes estrelas do Delta do Mississipi: Son House e Charley Patton, ambos influência direta para Robert Johnson e toda geração blueseira de Howlin’ Wolf, John Lee Hooker e Muddy Waters.

A dupla reinou absoluta nos bares do Sul dos Estados Unidos com estilos bem diferentes. Son House, que para muitos é o autor da lenda sobre o pacto com diabo de Robert Johnson, era alto, magro, estilo low-profile, mas intenso no palco; já Patton foi talvez o primeiro guitarrista showman da música, era baixo, falante, engraçado, cheio de poses, com presença de palco fortíssima – só que teve carreira curta, morreu em 1934, aos 43 anos. Son House foi até os 86 anos, regravou clássicos, tocou no Newport Folk Festival, no Carnegie Hall e virou ídolo de novo nos anos 60.

Robert Johnson é até hoje o nome mais forte dessa primeira grande geração do blues americano, influência assumida de guitarristas como Eric Clapton e Keith Richards. Mas vale muito também dar uma garimpada e buscar discos de seus contemporâneos  House-Patton é só porta de entrada. Tem Willie Brown, Skip James, Bukka White... para inspirar a pesquisa veja abaixo trecho do belíssimo documentário ‘The Blues’, de Scorsese, de 2003 (que tem versão CD também). Imagens raras e sonzeira totalmente roots.



Burro Morto - Baptista virou máquina (2010) 

Furar o bloqueio mainstream do rock no Brasil não é tarefa das mais simples e quando aparece alguma banda fora do eixo fazendo shows no Rio e São Paulo é para se prestar atenção. Surgiram assim nos últimos anos os excelentes Vanguart (Cuiabá), Cidadão Instigado (Ceará), Macaco Bong (MT) e Móveis Coloniais de Acaju (DF), mas quando um grupo novo se define como ‘instrumental-psicodélico-afrobeat’, aí sim temos que bater palma, correr atrás e conferir o som. Quarteto de João Pessoa, o Burro Morto ainda conseguiu ir além: fez um disco que serve como roteiro de um filme. Ousado, diferente e, o mais importante, muito competente.

Entrando no clima, podemos dizer que o roteiro do disco fala sobre uma terra onde as pessoas só trabalham. A virada na trama (e no CD) acontece quando o tal Baptista desmaia e sonha com amor, alegria, arte... daí surgem grooves, improvisações e melodias que colocam o disco do Burro Morto na leva dos melhores lançamentos do ano até agora.  O álbum, que já vazou na internet (a banda, aliás, fez questão de divulgar) tem participação de Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e virá acompanhado do DVD com o filme. 

Quem já viu as apresentações em SP avisa que a banda tem tudo para ganhar público cativo. Na playlist tem também músicas do EP ‘Varadouro’ + petardos de Macaco Bong e Vanguart. 

Abaixo, Burro Morto tocando clássico de Fela Kuti no Sesc Pompeia; e pauleira 'Amendoim' com Macaco Bong em vídeo no esquema colaborativo.




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