28.8.12

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Entre música e jornalismo com pés e mãos na África 

Editor do site AfroPop e finalizando livro sobre o lendário Thomas Mapfumo, jornalista e músico Banning Eyre conversa sobre o boom da música africana e as novas bandas de afrobeat nos EUA 

(oblogblack na +Soma)


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Dá para contar nos dedos os jornalistas que já tiveram prazer de dividir palco com seus ídolos. Mas tocar, fazer disco, compor um hit, tudo isso ao lado de estrelas da música africana – e sendo americano - bem, aí só Banning Eyre, 56 anos, editor-executivo do site AfroPop WorldWide e um dos maiores especialistas em afrobeat, afrofunk, highlife, juju music e demais estilos criados no continente mais musical do planeta. 

Nascido em Boston e atualmente morando em NY, Eyre já tem três livros publicados, escreve para grandes revistas e produz programas de rádio sobre 'world music' para 115 estações dos EUA. O currículo respeitável vira de cabeça de baixo quando listamos os feitos musicais que transformam Eyre em personagem único. Guitarrista profissional nos anos 70, já participou de dois discos de Thomas Mapfumo, ícone no Zimbábue, dividiu o palco com a mítica Super Rail Band, do Mali, e colaborou com a dupla Toumani Diabaté e Taj Mahal, em Kulanjan, indicado a melhor álbum de 'world music' do ano na Inglaterra em 1999. Tudo, sem nunca ter parado de produzir reportagens, livros e programas de rádio.

Finalizando uma biografia sobre o lendário Mapfumo, Eyre escreve para veículos influentes como NPR, Guitar Player e The Beat, mas sempre sonhou virar escritor e escrever ficção. Até que em 1987, há exatos 25 anos, recebeu convite do amigo Sean Harlow para uma viagem de pesquisa à Africa. O então companheiro de faculdade buscava informações para o que viria a ser o AfroPop, hoje uma ONG que produz, além do site, programas de rádio para EUA, Europa e África. Na volta, começou a escrever críticas de discos, fez consultoria de shows, encartes para álbuns e virou editor executivo do AfroPop.

Em 1995, outra viagem à África consolidaria sua trajetória amarrando de vez jornalismo e música em sua carreira: morou durante oito meses no Mali, na capital Bamako, estudando guitarra com Djelimady Tounkara, da Rail Band. O material inédito rendeu o livro In Griot Time, An American Guitarist in Mali, até hoje seu cartão de visita com visão rara de um músico estrangeiro sobre a música da África. Eyre já tem mais dois livros publicados sobre sons africanos (Afropop! An Illustrated Guide to Contemporary African Music e Guitar Atlas: Africa) e dá aulas e workshops em NY sobre técnicas de guitarra para highlife, afrobeat e juju, entre outros estilos.

Banning Eyre conversou sobre o atual momento da música africana nos EUA e Europa, a explosão de novas bandas de afrobeat em NY e analisa os recentes relançamentos de gravadoras como Analog Africa, Soundway e Strut. Veja ainda sites indicados e ainda o top 5 de suas músicas preferidas.

Como você vê o crescimento da música africana nos últimos anos? Podemos falar que já existe uma nova cena afrobeat? 

O afrobeat está muito forte hoje nos EUA. Só em NY, temos bandas incríveis como Budos Band e Antibalas. O Antibalas, aliás, teve papel fundamental no sucesso do musical ‘Fela’, como banda de apoio tocando ao vivo no palco na Broadway. Mas infelizmente ainda não podemos fala que existe uma cena, o afrobeat ainda é uma música de gueto, assim como toda música africana. As bandas têm muitos fãs, seguidores, mas elas se equilibram entre esse gueto africano e a cena de festas. Mas os grupos estão sim cada vez melhores e mais profissionais. Acredito que o afrobeat de fato está fazendo seu caminho rumo ao mainstream, beneficiado também pela pesada influência funky nos EUA. Os ouvidos dos americanos se ajustam mais facilmente ao afrobeat do que a outros tipos de estilos africanos.

Qual a importância da internet para esse revival de música africana? 

A internet atualmente tem uma importância enorme em tudo. Jovens do mundo inteiro estão falando sobre música africana, criando bandas e fazendo essas informações circularem. Ajudou também a quebrar o antigo obstáculo que eram as gravadoras. Antes, se você não tinha uma empresa por trás promovendo e distribuindo suas músicas, você não existia, isso era um enorme filtro. As novas gerações estão sempre famintas por novidade e isso ajuda muito a música africana nesse novo mundo conectado. E ela se vende sozinha, as pessoas só tem que escutar.

Quais sites e blogs sobre música africana você indica? 

Gosto muito do Africa is a Country, com informações sobre cultura e história e não apenas sobre música. Acompanho também sites de gêneros específicos, de música congolesa, por exemplo, (Ambiance Congo) música do Saara (Sahel Sounds). Dos grandes sites, gosto do Mondomix, que tem vídeos maravilhosos, National Geographic, com boas músicas, e NPR, com notícias de shows e lançamentos de CDs. Temos um equipe muito competente e antenada no AfroPop que sempre me passa boas dicas.

Como você vê o trabalho com sons africanos de selos como Daptone, Analog, Strut, Vampisoul? 

Adoro o Analog Africa, tenho todos os discos, coletâneas incríveis, principalmente com sons dos anos 70. E com um acabamento maravilhoso, muita informação. A Strut também tem discos ótimos, com foco maior no afrobeat. O trabalho que eles fizeram com os discos do Ebo Taylor é excepcional. Adoro também a inglesa Soundway, com discos brilhantes de funk e soul da costa oeste. Gosto ainda do Sublime Frequencies, com bandas do Saara. A Daptone eu não conheço profundamente, mas eles lançaram o Antibalas e já ganham pontos comigo. Vampisoul é nova para mim, vou checar.

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