16.3.11
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Daktaris - Soul Explosion (1998)
Antibalas - Who is this America? (2004)
‘Soul Explosion’ é talvez o marco zero no renascimento do afrobeat em NY. Com metais nervosos e guitarras funkeadas impregnadas de sangue nigeriano até a alma, o álbum do Daktaris de 1998 inspirou toda uma nova geração de músicos locais e foi trilha sonora para festas black que bombavam na cidade como a Africalia. Nesse caldeirão de influências, referências e noitadas, o Daktaris juntou forças com Soul Providers e King Changó e renasceu ainda melhor como Antibalas para virar um dos destaques da hoje mais que estabelecida cena afrobeat de NY. ‘Who is this America’, de 2004, é o terceiro disco de estúdio do grupo e marca estreia na prestigiada gravadora Ropeadope. Com solos incendiários de sax e trombone, groove afiado e letras politizadas, o Antibalas mostra que os garotos brancos de NY (maioria na atual formação com 14 integrantes) querem muito mais do que ser uma releitura do mestre Fela Kuti. Os dois álbuns trazem um black funk intenso para bombar palcos e festas pelo mundo. Yeah, man, a África respira forte no Brooklyn.
Boubacar Traoré – Kongo Magni (2005)
Não conhece a música do Mali? Blues africano? Acha que é tudo world music? Pois Boubacar Traoré e os conterrâneos Ali Farka Touré e Toumani Diabaté são nomes indispensáveis e porta de entrada para um país riquíssimo na história da música. Damon Albarn (Blur e Gorilaz), inquieto e antenado, foi lá conferir, passou uma temporada no país e produziu o excelente e pouco divulgado álbum ‘Mali Music’, de 2002. Ali Farka e Toumani são hoje nomes estabelecidos fora da África e fazem turnês constantes por Europa e EUA. Já Boubacar, ou Kak Kar (que significa aquele que dribla muito), é um nome bem menos divulgado e foi para mim uma descoberta a partir do hit ‘Kar Kar Madison’ em uma coletânea. ‘Kongo Magni’, seu último álbum, de 2005, é daqueles discos para tocar inteiro, deixar no repeat, ouvir no dia seguinte, servir de trilha para festa, final de tarde, fim de noite, no carro, e depois correr atrás dos outros CDs. O guitarrista de 69 anos viveu fase de ouro nos anos 60, foi um dos símbolos da independência no seu país com o hit 'Mali Twist', depois caiu no esquecimento, acabou ralando na construção civil na França até ser redescoberto e gravar seu primeiro CD oficial em 1994. Aí decolou. Hoje faz shows aclamados e tem agenda cheia em festivais pelo mundo. Seu som é uma mistura deliciosa de guitarra e gaita, com vocal ora potente ora minimalista, e uma cozinha instrumental requintada com gostinho meio África, meio Chicago, puro Mali.
Wes Montgomery é figura fácil em todas as listas de melhores guitarristas da história do jazz. Tem a técnica de Django Reinhardt e Kenny Burrell, o groove de Grant Green e toda a importância histórica do seu mestre Charlie Christian, primeiro grande solista do jazz ainda na década de 20. ‘Full House’ foi gravado ao vivo com o trio do pianista Wynton Kelly, em 1962, com nada menos que Paul Chambers no baixo e Jimmy Cobb na bateria, dupla com passagem pelos grupos de John Coltrane, Miles Davis, Sonny Rollins e Bud Powell. Montgomery apareceu para o mundo do jazz com o clássico ‘The incredible jazz guitar of Wes Montgomery’, de 1960, e brilhou nos anos seguintes no seu trio ou em duetos com o mestre do hammond Jimmy Smith. É daqueles músicos que fazem o complexo parecer simples. As notas fluem tranquilas como um grande solo onde as melodias vão se encaixando perfeitas.