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14.12.12

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Dono do selo Analog Africa toca na Makula e prepara projeto no Brasil (Oblogblack no Amplificador do Globo)

Criador do sensacional selo alemão Analog Africa, fonte para DJs do mundo inteiro de sons africanos obscuros dos anos 60 e 70 garimpados em países como Nigéria, Benin, Gana, Togo e Zimbábue, o tunisiano radicado em Frankfurt Samy Ben Redjeb, 41 anos, está no Rio junto com o alemão Pedo Knop para dividir as picapes com a dupla Zé McGill e Lucio Branco em edição super especial da festa Makula, nesta sexta, 14, a partir das 23h, no Coccinelle Bistrô, Arco do Telles. Filho de mãe tunisiana e pai alemão, criado na Suécia, Áustria e radicado em Frankfurt, Redjeb acaba de mostrar suas seleções invocadas em SP durante enceramento da Bienal (paulistanos que não viram terão uma segunda chance, no sábado, 15, um dia após a Makula, no festival Nave Groove, junto com Abayomy e mais DJs).

Com radar sempre ligado em busca de música original e grooves poderosos, Samy - que já teve que mudar de casa para ter um quarto exclusivo para seus quase dez mil vinis - aproveitou a vinda ao Brasil para iniciar projeto mantido ainda sob sigilo na região Norte do país.



Em entrevista exclusiva, a cabeça pensante e atuante por trás do Analog Africa antecipou ainda o lançamento de um novo disco da Poly-Rythmo para março, analisou o novo momento de crescimento para música africana e lembrou bastidores de suas passagens pelo continente africano.

Como surgiu a oportunidade de vir para o Brasil?
Quando terminei o projeto sobre a Colômbia (o duplo recém-lançado ‘Diablos Del Ritmo’), queria descansar, viajar, e aí pensei: vou para o Brasil, Colômbia de novo, Haiti, mas só ouvir música, relaxar. E aí apareceu esse projeto que ainda está no começo e sobre o qual não posso falar muito. Começou com um DJ da Austrália que postou um som brasileiro no Facebook, logo de cara vi que não era samba e nem bossa nova. Gostei, ele me mandou mais umas oito faixas e decidi aproveitar minha ida ao Brasil, que já estava certa, para aprofundar essa pesquisa no Norte do país. Estamos ainda fazendo contatos, é uma fase inicial. O próximo passo é voltar, conhecer os músicos, as famílias, coletar material, fotos (todos os projetos da Analog Africa são caprichadíssimos, com produção gráfica de alto nível), parecido com o álbum que fiz recentemente na Colômbia. Muita gente faz compilações sem sair do próprio país e essa parte para mim é muito importante (abaixo, com Ebo Taylor, em Gana). Não faria sentido fazer discos sem conhecer o país, o povo, a cidade. Quero mostrar fora do Brasil bandas que precisam ter sua música divulgada. Um som com energia totalmente diferente e que reflete bem a diversidade do país.




Qual sua primeira impressão do Rio?
Estamos aqui sentados em uma das praias mais famosas do mundo, um lugar mítico, como NY, Paris. Mas sei que essa é só uma fachada turística, assim que você se afasta da orla, é como em outras cidades grandes, como nos EUA, França ou Tunísia, onde eu nasci. Não quero fazer um disco de samba, bossa nova, quero mostrar músicas que ainda não foram descobertas ou que pelo menos não tiveram chance de ser divulgadas fora do país, não quero ‘holiday music’.


O afrobeat tem crescido muito no Brasil, com novas bandas, mais shows. Como você vê hoje o mercado para música africana no mundo?
Definitivamente, tem crescido muito nos últimos 3 a 5 anos, mas continua muito longe de ser pop. A internet ajudou, a informação está circulando muito mais, a qualidade das gravações melhorou bastante. Os discos oferecem hoje um produto muito melhor do que aquele feito pelas gravadoras de ‘world music’ dos anos 80 e 90. Hoje, selos independentes como Soundway, Strut e Buda Musique fazem tudo com muito mais amor, quase sai sangue e suor quando você espreme o disco. Todos os grandes DJs do mundo têm atualmente álbuns de música africana, Cut Chemist, Quantic, isso era raríssimo há dez anos. Acho que toda cidade grande precisaria de pelo menos um DJ que tocasse música africana na rádio para popularizar. No Brasil, existem 4 ou 5 grandes bandas, algumas festas, mas ainda é muito pouco. E mesmo em NY, uma das cidades onde essa cena é mais forte, o número de bandas não é muito maior. Esse é o cenário, falta muito para virar música popular como merecia ser.




Quantas vezes já foi à África? Qual descoberta mais impactante nos seus garimpos?
Já perdi a conta. Trabalhei na Lufthansa, conseguia muitas passagens e isso foi importante para meu trabalho na Analog Africa. Nos países da África, a conservação dos discos é complicada e é muito mais difícil achar os originais. Em Angola, consegui todas as fitas master. Mas isso é raro. Os álbuns, na verdade, funcionam como uma janela. Depois das músicas, tenho que seguir em busca das gravações. No Benin, tive muita sorte. Achei um senhor que vendia discos, a sua loja tinha fechado, mas ele tinha tudo ainda guardado, álbuns novos, originais, zerados, centenas. Foi lá onde consegui quase todos os discos da Poly-Rythmo.


Qual seu top 5 de bandas africanas mais importantes?
Poly-Rythmo, Bembeya Jazz, Franco, Super Rail Band e Mulatu Astakte 



Ouça aqui playlist com  faixas das coletâneas 'African Scream Contest', 'Afrobeat Airways' e 'Legends of Benin', além de músicas da Poly-Rythmo, Ebo Taylor, Super Borgou De Parakou, Rob Way e do colombiano Anibal Velasquez. Para CDs e vinis, vá direto à loja online Goma Gringa, distribuidor no Brasil da Analog Africa e de outros selos especializados em música africana como Strut e Soundway.

13.6.12

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Gravadoras independentes da Europa e Estados Unidos apontam seus radares para Mali, Gana, Nigéria e Benin atrás de álbuns inéditos fora da África, muitos esgotados, fora de catálogo, relíquias que só aparecem com pesquisa pesada. É cada vez mais comum ver produtores e donos de selos viajando meses pela costa oeste africana e voltando carregados de vinis dos anos 60 e 70. As inglesas Soundway, Strut Records e World Circuit, a alemã Analog Africa, a espanhola Vampisoul e a francesa Buda Musique, que abriu portas nos anos 90 com a série Ethiopiques, são nomes chaves dessa nova cena internacional que tem produzido uma ‘world music’ bem mais funkeada do que a aquela empacotada pelas multinacionais nos anos 80 e 90. 

Do garimpo por lojas de discos, rádios e até casas de colecionadores em cidades como Accra, Lagos e Cotonou já saíram discaços de Ebo Taylor, Orchestre Poly-Rythmo, Orlando Julius, Mulatu Astatke, Refugee All-Stars e muitas coletâneas com sons raríssimos em sequências matadoras ilustradas por pesquisa caprichada com fotos e entrevistas. Seguem quatro dicas que servem como mapa musical para essa região da África que é uma mina de sons clássicos.

African Scream Contest (2008) - Analog Africa
A viagem de Samy Redjeb por Benin e Togo, em 2005, rendeu tanto que o produtor da alemã Analog Africa só deu o projeto por encerrado depois de quase três anos na ponte aérea Frankfurt-Accra. Tinha tanto material que não ficou satisfeito somente em produzir um discaço com 14 músicas de nomes como Orchestre Poly-Rythmo, Les Volcans de la Capital e El Rego et ses commandos. A Analog lançou acompanhando o álbum um livro caprichadíssimo de 44 páginas recheado de fotos raras cedidas pelos próprios músicos e 16 entrevistas. No total, Samy fez oito viagens à capital do Benin, Cotonou, terra natal da sempre espetacular Poly-Rythmo. Grooves hipnóticos e metais pesados para conquistar até os ouvintes de primeira viagem. 

Ghana Soundz Vol 1 (2002) Vol 2 (2004) - SoundWay
O DJ e fundador da SoundWay Miles Cleret voltou de Gana carregado de raridades locais de funk e afrobeat. Depois do garimpo, foi atrás dos músicos para resgatar fotos, dados das gravações e histórias. ‘Ghana Soundz’ é completíssimo e mereceu segundo volume dois anos depois. A maioria dos sons é do início dos anos 70 quando os ídolos locais eram Fela Kuti, James Brown e Santana. O resultado é uma mistura do funk dos EUA com o highlife local. Ebo Taylor e Marijata já tiveram posts aqui no blog.

VampiSoul Goes to Africa (2008) - VampiSoul
Depois de apostar nas pedradas black ‘Lagos Baby’, de Fela Kuti, ‘Afro Disco Beat’, de Tony Allen, e na coletânea ‘Highlife Time’, todos discos duplos com produção impecável,  a espanhola VampiSoul partiu para pesquisa de campo e antecipa futuros lançamentos com esse ‘VampiSoul Goes to Africa’. Muita percussão, solinhos funkeados de guitarra, metais em brasa e influência direta do deep funk dos EUA.

Lagos Jump (2009) – Strut Records
‘Lagos Jump’ marca a volta da inglesa Strut ao país de Fela Kuti depois do relançamento do triplo ‘Nigeria 70’. Só que o foco agora é a capital Lagos dos anos 70 totalmente impregnada, dominada, encharcada de afrobeat. Tem do jazz pesado de Peter King ao afrofunk de Bola Johnson, chegando à lenda do ‘juju’ Shina Peters. São ao todo 27 músicas em um álbum duplo com seleção de Duncan Brooker e John Collins. Não poderiam faltar os incríveis Orlando Julius, Funkees, Joni Haastrup e Tony Allen. Pesquisa competente, afrobeat pauleira.

9.2.12

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The Velvet Underground (1969)
 
Andy Warhol produzindo, a modelo alemã Nico cantando e Lou Reed e John Cage extrapolando os limites da música fazendo uma mistura experimental, vanguardista e acelerada de rock com poesia. O Velvet Underground fez história nos seus dois primeiros álbuns com músicas que virariam hinos como ‘Heroin’, ‘Venus in Furs’, ‘White Light/White Heat’ e ‘Lady Godiva’. Mas a receita começou a desandar logo após a estreia e Warhol e Nico foram as primeira baixas. Depois, em 1968, o Velvet perderia também John Cage, então desafeto de Reed. Terceiro álbum de estúdio da banda de NY, o homônimo ‘The Velvet Underground’ foi lançado em 1969 surpreendendo com uma fórmula totalmente inesperada: letras reflexivas numa levada calma e relaxada. Coincidência ou não para súbita mudança de rumo, o Velvet teve todos seus amplificadores roubados antes da entrar em estúdio. E de novo fez um disco antológico. 

A atitude rock dos tempos de Warhol-Nico-Cage ainda está lá, assim como o clima cool e as letras inspiradas. ‘What Goes On’ e ‘Beginning to See the Light’ são as mais aceleradas, e ‘The Murder Mystery’, com suas colagens de poesias, a mais experimental. Seis das dez faixas são composições de Lou Reed e voltariam anos depois nos seus discos solos, como ‘Candy Says’ e ‘Some Kinda Love’. Outro destaque do álbum é ‘Pale Blue Eyes’, sucesso no Brasil nos anos 90 na voz de Marisa Monte.
 
Os quatro discos de estúdio do Velvet foram relançados nos anos 80. Seus integrantes originais voltariam a tocar juntos na década de 90, mas depois de alguns shows pela Europa e um disco ao vivo duplo com 23 músicas, de 1992, a banda se separou após nova briga entre Cale e Reed. A excelente ‘Some Kinda Love’ abre a playlist que tem ainda mais cinco faixas dos dois primeiros álbuns. Abaixo, a clássica 'Heroin', Paris, 1993.

  

Buddy Guy e Junior Wells – Play the Blues (1972)
 
Está lá nos créditos em letras bem miúdas: produtor, Eric Clapton. Blueseiro de carteirinha e fã de longa data de Buddy Guy, o inglês ex-Yardbirds, Cream e Blind Faith já era um dos maiores guitarristas da música mundial quando convenceu Ahmet Ertegun, o todo poderoso da Atlantic Records, a assinar com o guitarrista de Chicago para um disco ao lado do parceiro Junior Wells, ex-gaitista de Muddy Waters. O encontro Clapton e Ertegun aconteceu em 1970, em Paris, logo após show de Guy e Wells abrindo apresentação dos Rolling Stones. Ali mesmo nos camarins, Ertegun concordou, mas deu sua condição: queria Clapton em pessoa como produtor do álbum. 'God' aceitou e ainda ganhou outro mito da música black como engenheiro de som, Tom Dowd, ex-Coltrane, Mingus e Ray Charles.  As gravações em Miami aconteceram no mesmo ano, mas sob clima conturbado com seguidas divergências entre Clapton e Ertegun. Por causa disso, ‘Play the Blues’ só seria lançado dois anos depois e com duas músicas extras gravadas em nova jam em NY.
 
Faixas como ‘T-Bone Shuffle’, ‘My Baby She Left Me’ e ‘Messing with the Kid’ são uma aula do mais puro blues de Chicago com Guy e Wells, então na casa dos 40 anos, tocando como veteranos e totalmente afiados após centenas de shows juntos. Destaque ainda para os solos de sax de A.C. Reed, para Dr. John no piano e, claro, para Clapton fazendo apoio de luxo como guitarra base. ‘Play the Blues’ seria depois relançado em 1992 com encarte e faixas extras do material gravado em Miami. Abaixo, Buddy Guy e Clapton juntos em 1969 e 1987.  



 
Tidiani Koné and Orchestre Poly-Rythmo
 
Trompetista e saxofonista dos mais inovadores e importantes da África e fundador da melhor orquestra de afro-cuban-jazz do Mali, a Super Rail Band, Tidiani Koné deixou seu país de origem nos anos 70 para fazer história na mítica Orchestre Poly-Rythmo com seus solos incendiários dando aula de como usar os metais no afro-funk. Koné depois voltaria a morar em Bamako sem participar dos shows concorridíssimos da nova fase da Poly-Rythmo (morreu antes sendo homenageado no disco de 2010, Cotonou Club). 

Nesse álbum raríssimo de apenas duas músicas (vendido em sites de leilão por mais de US$ 200), Koné aparece como band-leader em 20 minutos do mais puro groove. Quem curtiu a excelente coletânea ‘African Scream Contest’, da Analog Africa, vai logo identificar os solos de ‘Djanga Magni’. Mais uma chance para ouvir Tidiani Koné desfilando seu talento com o petardo black em versão estendida. Atenção para cozinha de respeito misturando kora e balafon com guitarra e teclados.


11.11.11

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Disco de estreia do Bixiga 70, bigband revelação de SP, é inspiração para primeira mixtape do blog com 12 faixas de álbuns de afrobeat recém lançados que merecem lugar cativo no iPod. Os franceses do Fanga abrem a sequência com Tony Allen como convidado. Tem ainda a nova do Tinariwen, o projeto coletivo de Damon Albarn, ex-Blur e Gorilaz, gravado no Congo, e mais Budos Band, Vieux Farka Toure e algumas raridades clássicas dos anos 60 e 70, de K.Frimpong a Mulatu Astatke e Orchestre Poly-Rythmo. Ouça, curta e compartilhe.



01 > Fanga - Crache La Douleur Feat. Tony Allen
02 > Bixiga70 - Luz Vermelha
03 > Budos Band - Hidden Hand
04 > Tinariwen - Amassakoul 'N' Tenere
05 > Shaolin Afronauts - Kilimanjaro
06 > Damon Albarn DRC Music - Customs
07 > Mulatu Astatke - Emnete
08 > K. Frimpong - Aboagyewaa
09 > Fela Kuti - Colonial mentality
10> Vieux Farka Toure Feat. Soulive - Watch Out
11 > Poly-Rythmo - Se Tche We Djo Mon
12 > Souljazz Orchestra - Agbara

20.5.11

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Marijata - This is Marijata (1976) 

Raridade que chegou a ser vendido por US$ 2 mil para DJs e colecionadores dos EUA e Europa, ‘This is Marijata’ foi relançado em março pela Academy LPs de NY em edição de luxo com tiragem de 150 vinis, encarte cheio de fotos e capa em sikscreen (mais mil cópias em LP comum). O projeto de resgate desse verdadeiro tesouro da música black, uma mistura de James Brown com Wilson Pickett e Fela Kuti em tons psicodélicos, é todo do DJ alemão radicado no Brooklyn, Frank Gossner, autor do blog Voodoofunk, simplesmente obrigatório para quem gosta de sons africanos. 

Fã incondicional de vinis e garimpador nato de raridades, Frank busca seus LPs direto na fonte através de agentes locais em países da costa oeste da África, como Gana, Senegal, Nigéria, Mali e Benin. Com dezenas de viagens e contatos acumulados, aos poucos passou a fazer também link entre músicos e gravadoras para resgatar discos raros. Essa semana, por exemplo, Frank lança com festa em NY uma coletânea de ‘funk , fast times and nigerian boogie badness’.

Gravado em 1976 pelo trio ganês formado por Kofi ‘Elektric’, Bob Fiscian e Nat Fredua, ‘This is Marijata’ é um dos discos preferidos de Frank, ficou anos restrito ao mercado africano e pouquíssimo divulgado no exterior até finalmente ser redescoberto e relançado. No blog, o DJ avisa que já está em fase final de produção para colocar no mercado o segundo e último LP do Marijata, o ‘disco vermelho’, com Pat Thomas.

(leia entrevista com Frank Gossner no blog Dust and grooves com ensaio de fotos feitas no dia em que chegava mais um carregamento direto da África em três caixas abarrotadas de LPs).

Sabe quando você ouve um som pela primeira vez e pensa: como eu não conhecia isso? Pois é, ‘This is Marijata’, prazer, muuuito bom.





Tout Poussant Orchestre Poly-Rythmo – Cotonou Club (2010) 

Gravadoras e selos dos EUA e Europa descobriram recentemente na África uma fonte praticamente intocada de música black e aos poucos começam a relançar discos raros e coletâneas. O número de fãs, colecionadores e sites especializados em sons africanos disparou e nesse exato momento tem algum pesquisador, agente ou produtor garimpando vinis ou negociando relançamentos de vinis esgotados em cidades como Accra, Lagos, Dakar ou Bamako.

Foi assim que nos últimos dez anos gravadoras como Soundway, World Circuit, Analog Africa e Luaka Bob (representante na Europa dos brasileiros Mutantes e Tom Zé) chegaram a ídolos locais do afrobeat, high life e voodoo, nomes como Ebo Taylor (Gana), Orchestra Baobab (Senegal), Super Rail Band (Mali) e essa incrível TP Orchestre Poly-Rythmo, fundada em 1966 e com status de lenda no Benin.


(TP vem de Tout Poussant, ‘toda poderosa’, prefixo muito usado em bandas e orquestras de países de colonização francesa  e até no futebol; o Mazembe, por exemplo, zebra que ganhou do Internacional no Mundial, também é TP)


Primeiro disco com lançamento mundial da Poly-Rythmo, ‘Cotonou Club’, de 2010, marca a volta da orquestra aos estúdios após intervalo de incríveis 25 anos. Para lançar o disco, que tem participações de celebridades como Angélique Kidjo e dos fãs roqueiros do Franz Ferdinand, os músicos viajaram o ano inteiro em turnê por EUA, Japão e Europa. Com agenda lotada e shows abarrotados, a Poly-Rythmo admite que não esperava ter trabalho reconhecido fora do Benin após tantos anos de estrada (leia entrevista do Afrobeatblog com um dos fundadores da orquestra, Vincent Ahehehinnou).

Antes do disco lançado pela Strut, os alemães da Analog Africa já haviam reeditado dois álbuns da Poly-Rythmo dos anos 70, ‘The Vodoun Effect' e ‘Echos Hypnotiques’. Todos os três discos seguem inéditos no Brasil e devem continuar. 

O mercado para música africana no Brasil ainda é limitado, informações sobre bandas do passado e do presente quase não circulam, gravadoras investem pouco e o que predomina na maioria do público ainda é uma visão estereotipada. Por isso, é de se comemorar a criação de festivais como o Percpan, antenadíssimo, e palco ano passado de uma apresentação histórica da Poly-Rythmo.

Pouco antes do show, em novembro, no Rio, o DJ Maurício Valadares escreveu no blog do Ronca Ronca: ‘É uma oportunidade única, algo parecido com o primeiro show do Franz Ferdinand no Circo, do Echo no Canecão, de Miles no Municipal em 74, de McCartney no Maracanã, de Neil Young no Rock in Rio, portanto, não pense duas vezes!’

Veja abaixo trecho do show no Oi Casa Grande e ouça na playlist músicas dos três discos. Mas para começar um minidoc francês sensacional com imagens do Benin e ensaios da Poly-Rythmo. Aumenta que isso aí é afrobeat e funk africano da melhor qualidade. 




Paulinho da Viola - Memórias Chorando e Memórias Cantando (1976) 

Gravados ambos em 1976, os discos ‘Memórias Chorando’ e ‘Memórias Cantando’ mostram os dois lados do mestre Paulinho da Viola: o de compositor de mão cheia autor de sambas históricos e o de excelente músico, herdeiro direto do talento do pai, o violinista César Faria, do grupo Época e Ouro criado por Jacob do Bandolim.

Dividindo em ‘Memórias’ a paixão pelo samba e pelo choro, um Paulinho da Viola em plena forma apresenta canções que ficariam na história, como ‘Perdoa’ e ‘Meu novo sapato’, e clássicos de mestres como Noel Rosa, Pixinguinha, Ary Barroso e Benedito Lacerda tocados ao lado do pai. 

Com craques das cordas e sopros em todos os instrumentos, como Copinha, Cristovão Bastos, e Elton Medeiro, ‘Memórias Chorando’ mereceu na época a seguinte crítica de José Ramos Tinhorão, no Jornal do Brasil: 

'Após alguns anos de carreira, qualquer cantor, músico ou compositor começa a pensar seriamente na possibilidade de produzir pelo menos um disco perfeito. Pois Paulinho da Viola acaba de conseguir dois, de uma só vez'. E não precisa dizer mais. Obrigatório. 





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