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24.3.11
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Para BB King, ele foi o melhor guitarrista do blues moderno. Não precisaria dizer mais nada para ir correndo conhecer melhor a obra deste que é sem exagero um dos maiores injustiçados da história da música. Não sei se pelo estilo low profile, por ter morrido cedo, ter poucos discos próprios, certo é que Earl Hooker nunca aparece fácil nas coletâneas, matérias, blogs, só pesquisando mesmo para dimensionar o talento do guitarrista nascido em Chicago, criado no Delta ao lado do guru Robert Nighthawk, dividindo palco com Bo Didley, com um currículo cheio de participações em gravações históricas de Sonny Boy Williamson e Muddy Waters. Todos os guitarristas mais importantes do blues, de Albert King a Buddy Guy, de Junior Wells a Willie Dixon, todos incluem Hooker entre os gigantes, e para muitos o maior mestre da slide guitar de todos os tempos. Dono de uma técnica impecável, Earl Hooker pode ir do blues ao soul, passar pelo boogie-woogie, be-bop e até esbarrar no rock. Esse álbum de 22 músicas dá panorama amplo de sua capacidade e vem aditivado com pérolas como ‘Dust my boom’, de Robert Johnson. Groove relaxado. E obrigatório no arquivo.
Adorado entre os rastafáris jamaicanos, citado em várias músicas de Bob Marley, Peter Tosh e Black Uhuru, e até por Jorge Benjor (‘descendente da negra rainha de Sabá’), o imperador Hailé Selassié I (o próprio Jah Rastafari) ficou no poder na Etiópia entre as décadas de 30 e 70, mediou conflitos na África, abriu hospitais, universidades, aboliu definitivamente escravidão no país e foi um estadista respeitado. Seu discurso na ONU em 1936 serviu de inspiração para Bob Marley escrever o clássico ‘War’ e no ano seguinte foi eleito ‘homem do ano’ da ‘Time’. Nascido Tafari Makonnen (o nome ‘ras Tafari’ vem daí, era como o povo se referia ao então príncipe Tafari) foi chefe supremo da Igreja, comandante do Exército, juiz supremo e por isso tudo também um líder déspota com poder exagerado num país pobre mergulhado em crises, mas imensamente rico culturalmente. O próprio Selassié era um apaixonado por música e teria inclusive uma orquestra particular no palácio. A supercoletânea francesa 'The éthiopiques', com nada menos que 25 volumes e tintas de jazz, big band, soul, blues e folk, resgata os grandes clássicos da música do país de Selassié. O CD duplo de 2007 reúne a nata de toda a coleção em 28 músicas. Na lista, nomes quase impronunciáveis e cheios de acentos como Tlahoun Gèssèssè e Alèmayèhu Eshété, esse uma espécie de James Brown etíope. Mas o destaque absoluto do CD e de toda a coleção é o grande compositor, arranjador e multi-instrumentista Mulatu Astatke, pai do ethio-jazz e redescoberto a partir da trilha do filme 'Broken Flowers', de Jim Jarmusch, de 2007, que usou ao todo sete canções do etíope. Desde então, Mulatu tem feito apresentações concorridíssimas (a noite com o coletivo londrino Heliocentrics, em 2008, rendeu disco e já virou clássico do afrobeat), participou do projeto Timeless com nomes como Jay Dilla e o brasileiro Artur Verocai, e por aqui fez showzaço com casa lotada em SP. Pode baixar, comprar, correr atrás, a sonoridade da música etíope é extremamente peculiar, tem um climão de filme mesmo, surreal, hipnótico, meio jazz, meio trilha, tudo enfumaçado. Prepare os ouvidos, afaste os preconceitos e ouça algo totalmente diferente.
Argemiro Patrocínio (2002)
Argemiro Patrocínio (2002)
Gosta de documentário é portelense e ainda não viu o filme ‘Mistério do samba’? Então pode marcar a sessão em casa que já tem filme obrigatório na espera. Produção de 2008 de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor com apresentação de ninguém menos que a diva Marisa Monte, o longa é uma espécie de ‘Buena vista’ sobre a Velha Guarda da Portela feito a partir de uma pesquisa da própria Marisa sobre a origem de obras primas da azul e branco de Madureira. Seu Argemiro, além de figuraça e contador de causos sensacionais ao longo do filme, é um compositor quase poeta, dono de uma voz deliciosa que combina perfeito com o samba e até então nunca tinha gravado um CD. Pode acreditar. O disco virou missão cumprida de Marisa Monte no ano seguinte e, mais, foi lançado junto com a também estreia de outro peso pesado da Portela e destaque no filme, Seu Jair do Cavaquinho. 'Argemiro Patrocínio', de 2002, já nasceu clássico com a nata da produção de uma vida inteira embalado pela direção musical primorosa de Paulão 7 Cordas e Mauro Diniz e participações especiais de uma timaço com Teresa Cristina, Nicolas Krassik e as pastoras da Velha Guarda da Portela. No repertório, sambas deliciosos com a inconfundível marca Argemiro como ‘A chuva cai’, ‘Vem amor’ e ‘Solidão’. Depois de shows, homenagens e reconhecimento, Argemiro morreu em 2003 aos 79 anos, em casa, de infarto. Quinze dias antes, havia perdido a mulher. No velório, Paulinho da Viola lamentou: ‘O disco dele e de Seu Jair são dois dos mais bonitos da história do samba’. Não é portelense? Vai ficar um pouco.
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