3.4.13
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Orquestra Afro-Brasileira - Obaluayê! (1957)
Que tal descobrir que você tem um parente próximo
vivendo em um outro país? É mais ou menos essa a sensação ao ouvir pela
primeira vez a Orquestra Afro-Brasileira e comprovar que estão lá as mesmas raízes,
influências e groove do afrobeat de Fela Kuti. Impossível não ver
semelhanças entre músicas do combo do mineiro de Abigail Cecilio de Moura (1905-1970)
com os petardos do nigeriano e seu Africa 70 ou Egypt 80. Tire a prova na playlist
com sete música da orquestra ou vá direto no vídeo abaixo e comprove como 'Liberdade' tem todo o
DNA de 'Shenshema'. Raridade em sebos, o disco de 1957 pode chegar a custar
perto de mil reais no Mercado Livre. Para fãs de grooves africanos e
colecionadores, vale muito! Criada em 1942, o combo de candomblé-jazz foi um
dos pioneiros na mistura das batidas afro com instrumentos como piano, sax e
trombone em passeios que iam do frevo e jongo a temas de folclore e cânticos de
umbanda.
Pesquisador, Abigail incorporou ainda instrumentos de percussão até
então pouco usados em orquestras como agogô, adejá, urucungo, atabaques e
angona-puíta. Lista de músicos da orquestra é extensa e já dá o clima de mistura total entre África, Brasil e jazz: Genny Pires (urucungo), José Pedro
(angona-puíta), Joércio Soares (agogô), Antônio Cruz (gonguê), Oswaldino Lucas
(rum), Carlos Negreiros (rumpi), Cândido Santos (lê), Valmir Rosa (afoxê),
Djalma da Paixão (adjá); Horácio Soares (sax alto, clarineta), Carmélio Alves
(sax tenor, clarineta), João Amâncio (sax alto, clarineta), Álvaro Nascimento
(sax tenor, clarineta), Ananias da Silva (trumpete), Gamaliel da Silva
(trumpete), Jaime da Silva (trumpete), Alfredo Alves (trombone) e Milton
Profeta (trombone). Discaço para ficar de olho sempre nas buscas por sebos. Playlist tem cinco faixas abrindo com 'Apresentação' + 'Rei Nagô chegou'.
Jimmy Smith – Just Friends (1972) + Jimmy Smith's House
Party (1958)
Depois de investir em uma vitrola zerada voltei a frequentar
sebos em busca de raridades e sempre me impressiono com a quantidade de discos clássicos ainda obscuros. ‘Just Friends’, de Jimmy Smith,
foi uma das últimas aquisições e mostra como uma boa garimpada pode render. Gênio do teclado Hammond, Smith
participou de vários projetos coletivos ao lado de grandes músicos do jazz e funk.
Mas os seus ‘Just Friends’ desse vinil de 1972 me surpreenderam, uma super seleção
com alguns dos meus jazzistas preferidos. Sente o drama: no trompete, Lee
Morgan; no sax, Lou Donaldson e na bateria o grande band-leader Art Blakey; e
ainda: Curtis Fuller no trombone, Tina Brooks no sax tenor; George Coleman no sax
alto; e fechando um dos meus guitarristas preferidos: Kenny Burrell. Me
convenceu na hora! São apenas quatro músicas com cerca de 20 mimutos de
jazz de cada lado e solos inspiradíssimos entrando em uma sequência matadora.
Descobri depois na pesquisa para o post que o vinil é na verdade um relançamento de uma
sessão gravada em NY, em 1958, para o disco ‘Jimmy Smith´s House Party’, da
Blue Note. Se achar um ou outro, leve na hora! Abaixo, Jimmy Smith ao vivo em 1967 com Charlie McFadden, outro dos seus 'just friends', na guitarra. Hard-bop e souljazz de primeira.
Areia e Grupo de Música Aberta - Para Perdedores (2011)
Recife não cansa de surpreender com discos inspiradíssimos que
muitas vezes não conseguem furar o bloqueio mainstream. ‘Para Perdedores', de 2011, é
o segundo álbum solo do baixista do Mundo Livre S/A, Areia, também músico em
trilhas famosas de cinema como ‘Amarelo Manga’, ‘Narradores de Javé’, ‘Árido
Movie’ e ‘Baixio das Bestas’, e parceiro de nomes consagrados em discos de Alceu Valença, DJ
Dolores, Arto Lindsay e Naná Vasconcelos. Após hiato de dez anos sem lançar
trabalho solo, Areia voltou ao lado do Grupo de Música Aberta formado pelo saxofonista
Ivan do Espírito Santo (Orquestra Contemporânea de Olinda), o acordeonista
Julio Cesar (Arabiando) e o baterista Cássio Cunha (Alceu Valença e Duna). O nome
Música Aberta vem do conceito de improvisação cíclica feita em cima de
temas como o dos repentistas e cantadores de poesia popular do Nordeste. São ao
todo quatro músicas gravadas em apenas uma noite no estúdio Muzak, em Recife. Estão
lá o Nordeste, todas as raízes onde foram beber o próprio Mundo Livre, mas
também a complexidade e sofisticação do jazz. O
nome ‘Para Perdedores’ é uma homenagem aos que 'andam na contramão da sociedade
competitiva', diz Areia no encarte. Faça download do disco no site do projeto. Pode mergulhar no som que a viagem é profunda.