21.6.12

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Dr. John - Locked Down (2012)

Ganhador de cinco Grammys e indicado ao Hall da Fama do Rock, em 2011, Dr. John precisou de um empurrãozinho da neta adolescente para aceitar a proposta de parceria de Dan Auerbach, do estouradíssimo Black Keys. Aos 71 anos, o pianista admitiu depois, ao lançar ‘Locked Down' com o guitarrista 40 anos mais novo, que até então só tinha 'ouvido falar' do grupo de Ohio. Para críticos e fãs, o disco está entre os melhores nos quase 50 anos de carreira de Dr. John. E uma de suas principais virtudes é exatamente o que o produtor famoso pediu logo nos primeiros encontros: queria um álbum no mesmo estilo do clássico 'Gris-Gris, de 1968, álbum de estreia do 'Night Tripper' de Nova Orleans. 

Para apimentar o caldeirão creole de ‘Locked Down’, Auerbach e Dr. John primeiro passaram um dia inteiro ouvindo o pianista etíope Mulatu Astatke. A dupla também se empanturrou de comida africana criando uma imersão total no ethio-jazz. Antes da gravação, Auerbach fez ainda um último pedido: que Dr. John trocasse seu piano tradicional por um teclado Farfisa de som mais funky e psicodélico. Missão dada, discaço já nas prateleiras. Ouça quatro faixas na playlist, mais duas de 'Gris-Gris'. Para deixar rolar. Pegada Mulatu nas texturas, guitarra rockeada do Black Keys e psicodelia Mardi Gras.
 



Youssou N´Dour - Dakar – Kingston (2010)

Youssou N´Dour convocou alguns dos melhores e mais experientes músicos da Jamaica para prestar tributo ao ídolo Bob Marley em ‘Dakkar-Kingston’, gravado em 2010 e base para o show do senegalês no Festival de Jazz de Montreux daquele ano. O disco segue tradição iniciada por nomes como Alpha Blondy e Lucky Dube de se produzir reggae da melhor qualidade na África, e só não ganhou a repercussão merecida porque o ex-líder da excelente Super E’tolie de Dakar poucos meses após o lançamento se lançou candidato à presidência do Senegal. 

N'Dour acabou derrotado na eleição, mas não se afastou da política. Em 2012, o músico de 52 anos, um dos africanos mais conhecidos internacionalmente, com parcerias com Bono, Bruce Springsteen, Peter Gabriel e Sting, e um dueto com Neneh Cherry que rendeu o hit '7 Seconds', em 1994, acabou nomeado ministro da Cultura e do Turismo do Senegal. 

Gravado em Dakar, Paris e Kingston (no mesmo Tuff Gong onde Bob Marley produziu seus melhores álbuns), ‘Dakar – Kingston’ traz o cantor senegalês em plena forma ao lado de nomes consagrados como o tecladista Tyrone Downie, ex-The Wailers e produtor do álbum, e Earl ‘Chinna’ Smith, quase oinipresente em álbuns de reggae nos anos 70.

Depois de abrir o álbum com ‘Marley’, dividindo os vocais com o jamaicano Mutabaruka, N’Dour desfila ao longo do álbum de treze faixas (ouça cinco na playlist) clássicos de sua carreira em versão reggae, como 'Medina' e 'Africa Dream Again', essa ao lado da revelação Ayo. Atenção em ‘Diarr Diarr’ e sua mistura perfeita do mbalax senegalês com o ritmo jamaicano. 

'Muito tempo atrás, quando os escravos deixaram a África, a música também partiu, por isso quando escutamos música cubana ou reggae, nós sentimos que essa música é parte de nós', disse.

Veja Youssou N´Dour em três momentos: nos anos 80, cantando 'Get Up, Stand Up', ao lado de Sting, Bruce Springsteen e Tracy Chapman; nos 90, com Neneh Cherry; e abaixo, em 2012, cantando ‘Marley’.



Ben Zabo (2012) 

Quase todos os lançamentos internacionais recentes de afrobeat legitimamente africano são de artistas na casa dos 50 a 70 anos, como Tony Allen, Oghene Kologbo e Orlando Julius, ou coletâneas com raridades de Thomas Mapfumo, Moussa Doumbia e Marijata. Estreia do cantor e guitarrista Ben Zabo, 33 anos, o disco homônimo recém-lançado pelo selo alemão Glitterhouse mostra que o ritmo criado por Fela Kuti nos anos 70 continua se reinventando na África e traz novos ares à música do Mali, berço de grandes artistas na Costa Oeste do continente. 

Gravado na capital do Mali, Bamako, na República Tcheca e na Eslovênia, ‘Ben Zabo’ tem sete faixas com um afrobeat moderno feito para as pistas quebrando uma fase 'cool-slow' da música malinesa de discos meditativos, quase melancólicos, de artistas como Toumani Diabaté, Ali Farka Toure, Rokia Traore e Salif Keita. É também o primeiro disco gravado no país por um músico da etnia Bo. Por isso, muitas vezes Zabo trata os integrantes de sua banda como ‘guerreiros musicais’. 

Ex-estudante de farmácia, Zabo começou na música com assistente no estúdio Bogolan, em Bamako, onde já gravaram Ali Farka, seu filho Vieux Farka, e Salif Keita, até mostrar serviço, impressionar com suas letras e ritmos, e ganhar oportunidade de montar sua própria banda e lançar disco na Europa com apoio de uma gravadora estrangeira. 

James Brown é certamente uma das maiores influências, assim com o próprio Fela Kuti, da vizinha Nigéria, além de bandas antigas de afrobeat locais, como Le Super Djata Band du Mali, Super Biton de Segou, Sory Bamba e L'Orchestre Kanaga de Mopti (se gosta de garimpar, anote esses nomes). Ouça aqui todas as músicas do disco em streaming. Abaixo, clipe da faixa de abertura, Wari Vo. 

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