13.7.12

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Linton Kwesi Johnson - Dread Beat and Blood (1978) e Making History (1984)

Difícil para quem gosta de dub apontar o melhor disco dos mais de 30 anos de carreira do músico, poeta e ativista jamaicano Linton Kwesi Johnson. Mas dois não podem faltar em qualquer lista:  'Dread Beat and Blood', o primeiro álbum, de 1978, e 'Making History', lançado em 1984. Neles, estão alguns dos maiores clássicos, não só do ritmo hipnótico dos efeitos esfumaçados, mas da própria música jamaicana, como 'Di Great Insohreckshan', sobre os 'riots' de 1981 em Brixton (bairro no Sul de Londres onde Kwesi morou desde os 13 anos), 'Five Nights of Bleeding' e 'It Dread Inna Inglan', todos com letras incendiárias e cantados em 'jamaican patois' (mistura de inglês com dialetos africanos).

Ativista com passagem pelos Panteras Negras, Kwesi tem um estilo inconfundível de cantar recitando e rimando, numa espécie de 'rap-ragga-poetry', sobre bases de reggae, blues e jazz - quase sempre feitas pelo parceiro de longos anos Dennis Bovell, baixista e produtor nascido em Barbados.

A dupla Kwesi e Bovell foi uma das maiores atrações do Back2Black londrino, no final de junho, no que pode ter sido uma de suas últimas apresentações juntos – o cantor se recupera de uma cirurgia de câncer de próstata e já anunciou que promete deixar os palcos para se dedicar aos livros de cultura e política (boa notícia é que o mestre dos efeitos e percussão segue na estrada e está perto de confirmar show, no Maranhão, em agosto).

Ouça na playlist duas músicas de 'Dread Beat and Blood' e duas de 'Making History', além de faixas de 'Force of Victory' e 'Bass Culture', mais dois álbuns que disputam o posto de maior clássico de Kwesi. Pode correr atrás de qualquer um que a pedrada vem lenta, no groove do reggae, mas certeira. Hipnótico, viciante e obrigatório. 


 Candeia – Filosofia do Samba (1971)

Portelense de sangue e compositor de mão cheia, Antônio Candeia Filho é um dos grandes nomes do samba em uma geração brilhante de poetas das favelas e subúrbios do Rio. Contemporâneo de nomes como Nelson Cavaquinho, Cartola e Zé Ketti, Candeia escreveu pérolas como 'Mar Serenou', clássico na voz de Clara Nunes, 'Preciso me Encontrar', eternizado por Cartola em disco de 1976, e 'Filosofia do Samba', hit com Paulinho da Viola e nome de seu segundo disco, de 1971.


Carismático e precoce, Candeia assinou seu primeiro samba na Portela com apenas 17 anos. Nesse ano, 1953, a azul e branco de Osvaldo Cruz conseguiu o feito inédito de cravar nota dez em todos os quesitos do desfile. O primeiro disco, no entanto, só seria lançado em 1970, 'Samba da Antiga', no mesmo período em que as escolas e os sambistas começavam a se tornar fenômenos de popularidade.  


Em 'Filosofia', Candeia mostra versatilidade com sambas malandros com pitadas de partido alto, outros poéticos e reflexivos, e uma faixa daquelas para separar e ter sempre à mão: ‘Saudação a Toco Preto’, um batidão afrobeat que revela todo conhecimento do mestre sobre cultura negra mesclando instrumentos, palavras e melodias na dose certa para descadeirar qualquer pista de dança.

Candeia ficou famoso não só por suas composições, mas também pelas festas que comandava regadas a muito partido alto no quintal de casa (veja abaixo um desses encontros registrados no documentário 'Partido Alto', de Leon Hirszman, com roda de bambas como Manacéia, Casquinha, Argemiro e um Paulinho da Viola iniciante, mas já cheio de elegância). Em cadeira de rodas desde 1957, o poeta portelense se deixou abater apenas nos primeiros anos com o tiro que levou após acidente de carro. Depois, fez muita festa, sambas históricos e deixou saudade.  

Candeia morreu em 1978, aos 43 anos. Três anos antes, preocupado com os rumos excessivamente comerciais das escolas, deixou a Portela e fundou o Grêmio Recreativo Arte Negra Escola de Samba Quilombo, junto com compositores como Nei Lopes, Wilson Moreira e Noca da Portela.

Muitos de seus sambas permanecem segredos bem guardados. ‘Filosofia’ é um bom começo para inaugurar o garimpo. Na playlist, só clássicos. Bênção mestre.

 


Getatchew Mekuria - Moa Anbessa (2006)

Novo parceiro do rapper paulistano Criolo, o etíope Mulatu Astake já não é mais segredo para os fãs brasileiros, mas a música de seu país, certamente. O primeiro passo para aprofundar conhecimentos nos sons de uma das nações africanas mais ricas e surpreendentes culturalmente é a série 'The Ethiopiques'. E está lá, no volume 14, dedicado aos saxofonistas, o nome de Getatchew Mekuria, cujo estilo feroz vinha dos cânticos de guerra, mas para os ouvidos ocidentais se aproximava muito do free jazz (que ele garante nunca ter escutado). Mas a história do disco 'Moa Anbessa', de 2006, é um capítulo à parte, quase surreal, e sua repercussão na Europa ainda mais inusitada.

O álbum de Mekuria na série 'Ethiopiques' foi lançado em 2003. Dois anos depois, a banda de rock-punk holandesa, The Ex, convidou o saxofonista para uma participação especial em seu show de 25 anos. A recepção do público foi tão boa, com entrosamento perfeito no palco e fora dele, que decidiram levar a parceria adiante, foram para estúdio e acabaram lançando, em 2006, 'Moa Anbessa'. Depois, voltaram aos palcos e viajaram a Europa inteira no que seria a primeira turnê de Mekuria pelo continente.

Em 2012, Mekuria e o The Ex anunciaram que estão preparando um novo disco, duplo e instrumental, além de relançarem trabalhos do etíope dos anos 70. Fora os projetos de discos, começaram em julho uma nova turnê europeia, com paradas na Holanda, França, Bélgica, Noruega e Dinamarca.

Veja abaixo o mestre do sax ethio-jazz em imagens raras exibidas na TV etíope, e depois solando com mesma intensidade com The Ex, em Praga. 



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