17.8.12
afrobeat-paris-djness
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Ouça playlist com Ness tocando com flautista francês ex-Farofa Carioca Bertand.
Em entrevista ao oblogbalck antes de embarcar
para NY, onde se apresentará em casas clássicas como Shrine, Cubana Social e @116, Ness fala sobre como anda a cena afrobeat na
França, lista dicas valiosas de bandas pouco conhecidas por aqui, mapeia lojas
e bairros onde Paris é mais black e termina fazendo seu top 5 de sons
africanos.
Como você vê a cena afrobeat hoje em Paris? Ainda é um música de gueto ou tem caminho para o mainstream?
Afrobeat está crescendo muito em todo o mundo
e segue fortíssimo na França. Engraçado você ter usado o termo gueto. A
primeira banda realmente relevante a vir da África para se estabelecer em
Paris, com membros do original Egypt 80, foi o Guetto Blaster. O percussionista
número 1 do Fela, Chief Udho Essiet, e o
guitarrista Kiala, continuam até hoje morando aqui. Eles tiveram um grande hit na França, nos
anos 80, ‘Na Waya’, e fizeram história por ser uma das primeiras bandas da Europa
a fazer afrobeat. Kiala atualmente toca também com o Anergy Afro Beat. No
início, era até arriscado porque o Fela não gostava que outras bandas
tocassem suas músicas. Mas acho que o afrobeat
vai estar sempre relacionado com o gueto porque é uma música que vem das ruas. Ao
contrário do hip-hop ou do r&b moderno, não tem nenhuma relação com a
indústria.
Quais bandas de afrobeat você
destaca atualmente na França?
Novos grupos como Rutmétix ou Walko têm
mostrado trabalhos excelentes, misturando novos ritmos e gravando com nomes
como Kiala. Gosto muito também do Imperial Tiger Orchestra, da Suíça. Ainda na Europa, tem o Heliocentrics, excelente! É por causa
dessas bandas que jovens do mundo inteiro têm conhecido cada vez mais o
afrobeat.
O primeiro show do Fela na Europa foi na
Bélgica, produzido pelo meu atual sócio, que organiza grande parte dos shows de
música africana em Paris. A França foi um dos primeiros países a receber Fela e
Tony Allen. Além da enorme colônia africana morando em Paris, há também uma
herança musical do jazz com grandes casas de show. O New Morning (a Banda Black
Rio tocará lá em setembro) foi o primeira casa do afrobeat de Paris, nos anos
70, depois o Hot Brass Club, em La Villette, que teve papel importante no
desenvolvimento da cena afro-funk em Paris, nos anos 80. Quando eu tinha 17 anos, fui empresário de
duas dessas bandas, Malka Family and Xaymaca. Mas a França é o país da
contradição, tem muita espaço para divesidade cultural, mas ao mesmo
tempo muito conservadorismo e reforço da identidade nacional. Demoramos muito
para conseguir criar festas de afrobeat em Paris. Músicos como Amayo, do Antibalas,
Souljazz Orchestra, Kutiman, Massak, Seun Kuti, todos já tinham tocado em
vários partes do mundo até virem para cá. Quando juntei forças com a Afro Beat
No Limit, as coisas decolaram. Hoje produzimos as maiores festas de afrobeat da
França e conseguimos atenção no exterior também porque temos muitos seguidores,
além de produzir o Fela Day em La Machine e em La Belleviloise. Sempre
lembro a minha madrasta me perguntando porque eu não produzia grupos
franceses, é mais ou menos assim que as coisas funcionam aqui.
Em que região Paris é mais africana?
Paris é dividida em duas áreas principais, o
lado direito do Sena tem mais bairros africanos como Montrouge , Chateau Rouge
, Barbes, Belleville, Nation e o 20e.
Betino’s, Superfly Records e Gibert Joseph são
minhas três lojas preferidas. No Betino’s, você encontra todo tipo de música
negra que não encontra em nenhuma outra loja e discos importados da Jazzy Sports,
do Japão, ou da Kindred Spirit. É pequena, mas incrível para garimpar,
principlamente por causa do astral da loja e do dono, quase impossível sair de
lá sem nada. Os donos da Superfly Records são especialistas e tem verdadeia
adoração por discos raros e obscuros.
Qual a importância da internet para esse
revival africano ? Como você vê o trabalho de selos como Daptone, Analog,
Vampsoul, Strut?
Miles Cleret é nosso musicologista da música
africana, faz um trabalho incrível e de grande impacto, apesar da cena inglesa
continuar bem atrás e seus músicos ainda sofrerem com isso. Ele teve ajuda do
Quantic e Hugo Mendez para promover a Soundway. E como ele é uma pessoa
bastante generosa, ajudou depois o Samy Redjeb da Analog Africa. Mas temos que
lembrar do trabalho incrível da Stern Records, nos anos 80, os discos do Fela
pela Decca, e depois o Honest John. Outra pessoa que devemos lembrar nesse
processo é o musicologista John Colins, hoje
professor na Universidade de Gana e autor de dezenas de livros
O que você acha do termo world music?
É uma armadilha do mercado. Não quer dizer
nada. Ainda mais depois que o mundo descobriu nos últimos anos que existe
afrobeat, soukous, mbalax, afrorock, afrosoul.... a lista é interminável.
Quantas vezes você já viajou para África ?
Minha família tem uma história muito forte com
a África e com a música africana. Comecei a viajar cedo porque meu pai
trabalhava na Unesco. Morei primeiro no Senegal, como muitos cidadãos
franceses, depois no Mali e Mauritânia. Aprendi percussão criança, ‘darbouka’ foi
o meu primeiro instrumento. Participei de vários rituais e cerimônias em que a
música tem papel fundamental e coloca as pessoas em verdadeiro transe.
Vai ser novamente no Belleviloise, que tem
muita tradição. Podemos ter convidados como Tony Allen, Seun Kuti, vamos ver
quem aparece. Temos muitos DJs trabalhando juntos com a StarWax .
Para terminar, faça seu top 5 de grandes clássicos do
afrobeat e mais 5 novas bandas para ficar de olho:
Fela Kuti e Ginger Baker, ‘Let’s Start’
Segun Bucknor, ’Adebo’
Aleke Khanoun, ‘Mother’s Day’,
Geraldo Pino, ‘Heavy Heavy’
Matata, do Quênia, ‘Wanna do my thing’
Seun Kuti & Egypt 80 (Nigéria)
Isdeen (Benin)
Anergy Afro-Beat (França)
Fanga (França)
Antibalas (EUA)
Na playlist, ouça faixas de Fela Kuti e Ginger
Baker, Segun Bucknor, Geraldo Pino, Matata, Seun Kuti, Fanga e Antibalas. Abaixo, vídeos de Aleke Khanoun, Isdeen e Anergy
Afro Beat. Thanks Ness!