14.9.12

gomagringa-frederic-thiphagne


Lilian Higa

Goma Gringa - DJ francês cria em SP loja online só com o fino dos vinis de música africana e rare-grooves
Sabe aquela ideia quase óbvia, projeto que tinha tudo para dar certo, demanda pronta, mas que ninguém levava adiante? Frederic Thiphagne, pesquisador, DJ e autor do excelente blog Les Mains Noires, francês com pouco mais de um ano morando em SP, foi lá e fez. Fred é a mente por trás do sensacional projeto Goma Gringa (tão incrível que fiz questão de deixar o logo aqui na barra direita do blog e, depois, de conhecê-lo ao vivo).



Site especializado em venda de vinis, compactos e CDs importados, o Goma Gringa está no ar há pouco mais de dois meses e já tem um catálogo de respeito, com o fino da música africana, além de rare-grooves, deep-funk e música brasileira selecionadíssima com nomes como DJ Tudo e Arthur Verocai. E com preço muito mais em conta do que em qualquer site de importação ou loja especializada. Diz aí, Fred não arrebentou? Para completar, ainda tem resumo dos álbuns e link para ouvir as faixas em streaming.  



Na lista de gravadoras parceiras do Goma Gringa, só a nata, como Analog Africa, Soundway, Now Again, Funk 45, Superfly e Strut; e vários álbuns que já passaram por aqui, raridades de nomes como Ebo Taylor, Poly-Rythmo e K. Frimpong. Entre as últimas aquisições do Goma estão os grooves do Music with Soul, projeto de Amsterdã, e os discaços do produtor, músico, etnomusicologista, Alfredo Bello, o DJ Tudo, incluindo seus dois álbuns e a série produzida por ele, Brasil Passado Futuro, com congado e maracatu. Como se não bastasse, Fred volta e meia ainda ataca de DJ na festa Bama Lama Bama Loo, na Caos, em SP.

Abaixo, Frederic Thiphagne explica como nasceu o Goma Gringa, fala sobre sua paixão pelo Brasil e antecipa planos, como lançar discos de bandas brasileiras no exterior e distribuir álbuns também para lojas.
Confira também top 10 com os melhores sons do Goma Gringa: 4 faixas estão na playlist, 3 tem link para ouvir em streaming e mais 3 em vídeos no Youtube. Só o fino, só raridade. Aperte o play, curte a entrevista e depois visita lá o Goma mas, preparado, sabendo que vai ser quase impossível não comprar nada.  



  


Top 10 Goma Gringa::

L'Orchestre Kanaga de Mopti - Kulukutu (Kindred Spirits)

Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou - Se Tche We Djo Mon (Analog Africa)

Hirut Bèqèlè - Ewnètègna Feqer (L'Arome Production)

Vis-A-Vis - Obi Agye Me Dofo (Secret Stash)

Mamo Lagbema - Love, Music and Dance (Analog Africa)

Kante Manfila / Sorry Bamba - Bravo Mimos (Oriki Music) 

Orchestre CVD - Rog Mik Africa (Analog Africa)  

Jef Gilson - Valse Pour Helene (Jazzman Records)


 Artur Griswold - Pretty Mama Blues (Jazzman Records) 

 
Lucho Peréz - Judith (Sound Way Records)




AdrianaTerra
Como começou sua história com o Brasil? Foi trabalho, amor?

Conheci minha esposa em maio de 2011, em Paris, e vim passar férias aqui com ela. Aí, definitivamente me apaixonei por ela, também pelo país e por São Paulo. Depois de 15 dias, voltei à França, mas fiquei só um mês, o tempo suficiente para arrumar minhas coisas, deixar o apartamento e voilà! No início de outubro, já estava no Brasil de novo para morar. Quando cheguei, sabia muito pouco sobre o país e sobre música brasileira. E não falava uma palavra de português. Foi uma sensação incrível de descoberta, como abrir uma porta e encontrar um mundo gigantesco, cheio de tesouros e cultura. Até hoje continuo impressionado com a riqueza do Brasil.

E o Goma Gringa?

O site é hoje meu trabalho principal, estou totalmente focado nele. Toco também como DJ de e estou desenvolvendo mais dois outros projetos de cultura, um livro e um festival. Desde a primeira vez que vim ao país, me chamou a atenção a ausência quase total e os altos preços dos lançamentos e relançamentos de discos europeus. Eu já tinha experiência trabalhando em gravadora na Europa, tenho muitos contatos com DJs, produtores, então, todos foram muito receptivos à minha ideia. Meu grande objetivo é criar uma ponte cultural e comercial entre países, sobretudo entre Europa e Brasil, envolvendo bandas, músicos e selos. A ideia é importar os melhores lançamentos e reedições, e por outro lado, exportar discos de bandas brasileiras.

Como foi a seleção das gravadoras?

O único critério é qualidade. Não quero que a loja esteja lotada de referências. Quero discos com boa música e bem produzidos. Atualmente, estou vendendo só no varejo, mas meu plano é fazer também distribuição para lojas. 


Fernando Eduardo / CrewActive
Como você vê a nova cena afro na Europa, EUA e Brasil?

Muito forte. Mas existem algumas diferenças. Na Europa, tem um grande movimento em torno da chamada música ‘tropical’, ou seja, sons africanos, latinos e também do Caribe. Esta cena cresceu muito nos últimos anos com todas as coletâneas de gravadoras especializadas como Soundway e Analog Africa. A cena afro reúne agora um grande público e as festas 'tropicais' se tornaram muito populares. Aqui no Brasil é um pouco diferente. Há uma cena africana também, muito forte e crescente, mas focada em afrobeat e afrofunk. Como DJ, ainda é difícil tocar outros ritmos. Cheguei ao Brasil com os mesmos sets que tocava na Europa, construídos em torno de sons que funcionavam bem nas pistas francesas, Soukous, Bikutsi, Ndombolo. Aqui, não deu certo e confesso que no início esvaziei a pista em alguns momentos! Mas ok, sem problema, já adaptei minha seleção.

Tem vitrola em casa, é colecionador?

Claro, vitrola para mim é mais do que necessário! Trouxe centena de vinis, mas muitos ainda estão na França. Sobre ser colecionador, na verdade, eu me considero mais um pesquisador. Os vinis até se acumulam para formar uma coleção. Mas eu vejo colecionador como alguém que procura ter o maior número de discos possíveis, que sonha em ter tudo, que nunca está satisfeito e atribui grande importância ao registro raro. Na verdade, eu sou um pouco assim! Mas tento não cair na dependência da raridade. Antes dos discos, o que eu estou procurando é a música.
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