21.10.11
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Gana completa 40 anos em 2011 do seu show internacional mais histórico e até hoje lembrado no país por quem estava lá. Foram mais de 12h de apresentações de ídolos soul-funk dos EUA na praça principal da capital Accra e pelo menos uma semana de eventos oficiais envolvendo os convidados. Na primeira lista, James Brown, grande ídolo não só em Gana mas em toda a África – e que um ano antes havia feito um show arrasador na Nigéria – era a primeiríssima opção. Outros nomes cotados foram Aretha Franklin, Louis Armstrong e Booker T & The MG's, mas todos negaram. A lista final, no entanto, ficou também recheada de estrelas garantindo um daqueles bailões clássicos para realmente ficar na memória.
‘Até hoje não teve nada igual no país’, confirma o criador do excelente blog Osibisaba, feito em Accra, dedicado à música de Gana com discos, fotos e playlists de afrobeat, gospel, hiplife e highlife.
A estrela de ‘Soul to Soul’ foi Wilson Pickett, dos clássicos ‘Mustang Sally’ e ‘In The Midnight Hour’ (um dos melhores momento do doc é ver o público mais perto do palco dançando os hits do soul brother nº 2); Ike e Tina Turner, na época ainda casados e estourados nos EUA, e Santana, com seu rock-psicodélico que já havia levantado Woodstock, também brilharam. Ao longo de toda a madrugada passaram pelo palco montado na Black Star Square nomes como Roberta Flack, Les McCann e Eddie Harris (em parceria com o ganês Amoah Azangeo), The Staple Singers e encerrando o show, às 6h45 da manhã, o grupo The Voices of East Harlem. Entre os africanos, destaque para Kumasi Drummers, Damas Choir e Kwa Mensah.
Lançado poucos meses após o show, o documentário ‘Soul to Soul’ foi restaurado, em 2004, pela Fundação Grammy e tem qualidade similar a filmes mais famosos sobre festivais da época, como o ‘Woodstock’, de 1969, e o ‘Wattstax’, de 1973. O doc mostra bastidores e preparativos para os shows e trechos de todas as apresentações, menos a de Roberta Flack, que não chegou a um acordo no relançamento. Vale destacar a emoção de músicos como Ike Turner ao pisar em solo africano e também a empolgação do público com os clássicos de Wilson Pickett e Santana. Veja abaixo trechos dos shows e aqui trailer do DVD.
Dos EUA, Nomo, Antibalas e Budos Band; Akoya e London Afrobeat, da Inglaterra, Karl Hector, da Alemanha, Liberators, da Austrália, Souljazz Orchestra, do Canadá, e do Brasil, Abayomy e Bixiga 70. Para ficar em 11 e formar um timaço dos palcos, a bigband Fanga, de Montpellier, seria o representante da França nessa seleção mundial afrobeat só com bandas que despontaram nos últimos 15 anos. Dos três discos lançados pelos franceses do Fanga, vou destacar ‘Natural Juice’, de 2007. Primeiro, pela participação de ninguém menos que o baterista Tony Allen, ex-Africa 70 e, segundo o próprio Fela Kuti, um dos criadores do afrobeat. Tony aparece logo na primeira faixa, a excelente ‘Crache La Douleur’, que também abre a playlist do post. Outro convidado de luxo em ‘Natural Juice’ é Segun Damisa, ex-Seun Kuti, Antibalas e fundador do Afrobeat Crusaders, de Bordeaux (ele morreu logo após o lançamento, aos 42 anos, de câncer). Nas onze faixas do disco, tem letra em francês, inglês e dioula, muito jazz-funk, um pouco de hip-hop, groove inspirado e alguns trechos hipnóticos para respirar. Veja abaixo o grupo em ação em programa de TV na França e depois vídeo com faixa do último disco, ‘Sira Ba’, de 2009.
Bobby Hutcherson – San Francisco (1970)
Bobby Hutcherson – San Francisco (1970)
Duas faixas de ‘San Francisco’ são obrigatórias em qualquer lista de clássicos da música black e constantemente aparecem em coletâneas de jazz-funk. A super grooveada ‘Uhmm’ é a mais conhecida e destaque nos recomendadíssimos álbuns ‘Blue Break Beats’ e ‘Infectious Grooves’, ambos da Blue Note. ‘Going Down South’, outra pérola daquelas para não sair da playlist, entrou em ‘Blue Note Trip’ e ainda em uma edição especial do clássico do US3 ‘Hand on the torch’, disco histórico de jazz-rap dos anos 90 que relançou ‘Cantaloop’, de Herbie Hancock.
As duas músicas do mestre do vibrafone, Bobby Hutcherson, já bastariam para ‘San Francisco’ merecer lugar cativo na estante. De preferência em vinil, no mínimo em CD. Lançado em 1970, o álbum mostra o músico de LA, hoje com 70 anos, em sua fase pós-hardbop e pré-fuision em parceria com o excelente saxofonista Harold Land. Exatamente por ficar no meio do caminho entre os discos mais cabeça e cheios de experimentação dos anos 60, e as misturas com sintetizadores dos 70, ‘San Francisco’ entrou para história como um dos melhores trabalhos de Hutcherson. Além da parceria com Land, o álbum traz ainda outro músico com carreira sólida: o pianista Joe Sample em ótima forma (é ele, aliás, quem assina ‘Going Down South’). Veja abaixo Bubby Hutcherson em outros mais marcantes da carreira, ao lado de McCoy Tyner e com Herbie Hancock.