5.2.13

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Native Brazilian Music (1942)

O baú de preciosidades ainda ocultas da música popular brasileira não para de surpreender e quando menos se espera começam a circular músicas obscuras, inéditas e incríveis de gênios como Pixinguinha, Cartola, Donga e João da Baiana. Entre 2010 e 2012, praticamente todas as faixas do raríssimo ‘Native Brazilian Music’ ficaram disponíveis na web. Gravado na noite do dia 7 de agosto de 1940, a bordo do SS Uruguay, ancorado na Praça Mauá, Rio, e equipado com estúdio completo da Columbia Records (depois comprada pela Sony), o disco de 16 faixas reunindo a nata da música brasileira dos anos 30 e 40 fazia parte da política de ‘boa vizinhança’ do governo americano durante a 2ª Guerra Mundial. 
 
Convidado pelo maestro Leopold Stokowski, idealizador do projeto, Heitor Villa-Lobos ficou com a ‘curadoria’ selecionando mais de 30 músicos e intérpretes. O detalhe é que nossos ‘best  friends’ nunca lançaram o disco no país. A única edição do álbum, de 1942, ficou disponível apenas para o público norte-americano. E pior, os fonogramas que estariam guardados nos cofres da Sony teriam sido removidos anos depois para a Biblioteca do Congresso dos EUA e até hoje tem paradeiro incerto dificultando seu relançamento. 


A pesquisadora Daniella Thompson assumiu a missão de tentar localizar os fonogramas (ao todo 40, incluindo as faixas não lançadas) e contou sua epopeia em uma série de artigos chamados ‘Stokowski Caçado’. A expectativa agora é que as gravações originais voltem ao Brasil para ficar sob a responsabilidade do Museu Villa-Lobos. Mas, por enquanto, ainda não há nenhuma posição oficial da Embaixada do Brasil em Washington que está à frente da empreitada. 


Outro projeto que tentou desvendar os bastidores das gravações no SS Uruguay é o documentário ‘Villa Lobos’, produzido em 2009, pela TV Senado. Veja abaixo trechos do filme com depoimentos de pesquisadores como Sergio Cabral e Ricardo Cravo Albim. 



No livro 'Todo Tempo que Eu Viver', o cineasta Roberto Moura cita uma reportagem do jornal A Noite, de 8 de agosto de 1940, sobre as gravações da dupla Stokowski/Villa-Lobos .


“O salão de música do Uruguai em toda sua existência talvez não tenha abrigado tantas celebridades como o fez ontem à noite. Às 22 horas, começou a concentração dos conjuntos, escolas de samba, orquestra, gente que ia cantar e gente que ia ouvir. Nesse último grupo, o próprio comandante do navio, que logo tomou lugar em uma cômoda poltrona, de onde acompanhou todo o desfile. Pixinguinha, Jararaca, Ratinho, Luís Americano, Augusto Calheiros, Donga, Zé Espinguela, Mauro César, João da Baiana, Janir Martins, Uma ala do Saudade do Cordão [sic], que tanto sucesso alcançou no último carnaval, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, o compositor David Nasser, toda essa gente fala, comenta, discute, até que tem início a trabalho das gravações. À medida que os ponteiros dos relógios correm, os passageiros doUruguai voltam dos seus passeios pela cidade e vão tomando lugar no vasto salão. E os grupos se sucedem diante do microfone na tarefa das gravações".


Em 2012, nos 40 anos de 'Native Brazilian Music’, a Rolling Stone publicou também a excelente matéria 'O Tio Sam Extraviou nossa Batucada', com alguns detalhes inusitados como o cachê dado a Cartola. No texto republicado no site da revista há ainda links para as principais músicas. É possível ler também a matéria publicada no distante 1974 sobre o disco que na época já era um tesouro praticamente desconhecido. Agora, ao menos, as músicas já podem ser ouvidas no Youtube. Abaixo, quatro delas: Zé Espinguela, Cartola, Pixinguinha com João da Baiana, e, fechando, Pixinguinha com Zé da Zilda e Donga.








Led Zeppelin – Celebration Day 2007 (2012)


Fundador da lendária Atlantic Records, primeira gravadora a assinar com o Led Zeppelin, em 1968, o turco radicado em NY Ahmet Ertegün, morto em 2006 e um dos grandes executivos da música de todos os tempos, certamente estaria na primeiríssima fila para acompanhar a noite épica em sua homenagem reunindo alguns dos seus principais contratados se apresentando em sequência no palco da O2 Arena, em Londres. Mas foi o show de encerramento o responsável por colocar o evento no Guinness como o de maior procura por ingressos na história da internet com mais de 20 milhões de pedidos para apenas 20 mil lugares disponíveis. 


Pela primeira desde o fim do Led Zeppelin, em 1980 (após a morte do baterista John Bonham), Robert Plant, 64 anos, Jimmy Page, 68, e John Paul Jones, 66, gravariam um disco inteiro com sua formação original, com Jason Bonham (filho de John) assumindo as baquetas. Para quem estava lá e assistiu ao vivo ao trio original do Led desfilar todos os clássicos da carreira, aquele 10 de dezembro de 2007 ficaria para sempre na memória como uma espécie de máquina do tempo.




Depois de algumas semanas de ensaios, a banda que criou alguns dos maiores clássicos do rock ressurgia afiadíssima lembrando todos seus hits num set de 16 músicas abrindo com ‘Good Times, Bad Times’, passando por hinos como ‘Dazed and Confused’ e ‘Whole Lotta Love’, até o encerramento com ‘Rock and Roll’. Imagina... melhor mesmo é correr e comprar o CD e DVD ‘Celebration Day’, dirigido por Dick Carruthers e lançado em 2012 – é, demorou 5 anos para o projeto chegar às lojas -  pois vale cada centavo e reedita um pouco da emoção do megaevento. 

Na coletiva de lançamento do álbum, no Museu de Arte Moderna de NY (MoMA), Plant, Page e Jones evitaram dar qualquer pista sobre um possível novo reencontro. Para cada pergunta sobre projetos futuros, respostas evasivas ou desconcertantes. 

- Se eu faria isso de novo? Com você?, disse Plant.


Para não dizer que os três ficaram só nas ironias, uma outra fala de Plant reacendeu esperança dos fãs.

“Queríamos fazer tudo certo e apresentar nosso som para um público que nunca teve a oportunidade de nos ouvir ao vivo, só conhecia nossa reputação. Adoramos os ensaios e o show, mas a responsabilidade de tocar quatro noites por semana é algo diferente. Não vamos colocar o carro na frente dos bois. Se formos capazes de fazer algo, em nosso próprio tempo, quem sabe ainda não aparecerá um outro projeto? 

Abaixo, trechos do DVD. Aqui, link para faixas no iTunes. Depois, vídeo completo do primeiro reencontro do Led, em 1985, no Live Aid. 


 
Guerra no Mali + Lobi Traoré, Kanaga System Krush Records - Bwati Kono, In the Club (2010)




Sob ameaça de invasão de grupos ligados à Al-Qaeda que dominavam a região norte do país e depois com a reação liderada pela França para expulsar os radicais islâmicos, o Mali ganhou destaque nos jornais nas últimas semanas com relatos de bombardeios, incêndios criminosos, execuções, recrutamento de crianças e até ameaças a músicos locais. Radicada na França, a cantora Fatoumata Diawara (atração do último Back2Black) aproveitou toda mídia internacional durante o último London Jazz Festival, em dezembro, para alertar sobre o conflito na sua terra natal. E fez mais: em janeiro, organizou uma jam reunindo a nata dos músicos do Mali (que não são poucos, incluindo Amadou e Mariam, Bassekou Kouyate, Vieux Farka Toure e mais de 30 bandas e intérpretes) para gravar ‘Mali-Ko, um ‘We are the world’ africano, pedindo paz e um Mali novamente unido. 



‘Estamos assustados e não sabemos o que vai acontecer. É importante o mundo entender nossa situação’, disse, fazendo questão de alertar para os abusos cometidos contra algumas bandas e o papel da música na riquíssima história cultural do país. ‘Não podemos viver sem música: é nossa primeira religião!’.


Para quem gosta de jazz, blues e até hiphop, o Mali é porta de entrada mais do que indicada para explorar a música africana. Aqui no blog o país tem lugar cativo com uma lista interminável de talentos incríveis. Além dos nomes já citados que participaram de ‘Mali-ko’, há mais estrelas do passado e do presente que colocam o país entre os grandes da música mundial como uma espécie de Jamaica ou Cuba da África em capacidade de revelar grupos e intérpretes de alto nível. No chamado ‘desert blues’, por exemplo, o país revelou um dos maiores guitarristas de todos os tempos: Ali Farka Touré. Há ainda gigantes como Sidi Touré, Tinariwen, Boubaracar Traoré, Salif Keita, Oumou Sangaré, Idrissa Soumaoro, Keletigui Diabate, entre outros.

Para fechar esse post-alerta sobre a situação no país e fazendo circular a mais nova descoberta do blog sobre a incrível música do Mali, a indicação é o excelente ‘Bwati Kono’, ou ‘In the Club’, o primeiro de Lobi Traoré aqui no oblogblack. 

Morto em 2010 com apenas 49 anos vítima de diabates, o guitarrista, cantor e compositor tem ao menos dez discos lançados fora do Mali, mas nenhum com a qualidade de ‘In the Club’, registrado ao vivo em dois dias de show em Bamako. Em dez faixas, Traoré desfila toda sua categoria na guitarra com clássicos do blues africano. Conheça mais sobre a trajetória no excelente mini-doc abaixo com trechos de apresentações. 


Na sequência, um apanhado com textos de sites brasileiros e estrangeiros sobre a guerra no Mali e seu impacto na música. E ainda sons de Ali Farka Touré, Amadou e Mariam, Tinariwen e outros gigantes que passaram aqui pelo oblogblack. Paz para o Mali. 

Documentário mapeia a música do Mali (O Globo)
http://oglobo.globo.com/cultura/documentario-mapeia-musica-do-mali-7405146

Mali: no rhythm or reason as militants declare war on music (Guardian)



"We can’t live without music: music is our first religion!”, Fatoumata Diawara (Musika)
http://www.musika.uk.com/2012/12/the-war-on-music/
  
A Malian chorus of reason hits the airwaves (African Review) 

Mali's conflict turns musicians into military (CNN) http://edition.cnn.com/2013/01/18/opinion/opinion-morgan-mali-music/

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