16.3.12

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Amadou e Mariam – Folila (2012)

Megaprodução, palco enorme, transmissão ao vivo para os seis continentes. A escolha para participar em Soweto do show histórico de abertura da Copa do Mundo de 2010, a primeira na África, deslanchou de vez a carreira internacional do casal do Mali Amadou e Mariam. A responsabilidade era enorme, além deles, apenas Angelique Kidjo, Parlotones e Tirariwen representavam a música africana em um line-up que tinha estrelas como Shakira e Black Eyed Peas. De lá para cá, o casal de cegos do Mali já abriu para super bandas como U2 e Coldplay, tocou com Damon Albarn no projeto hypado Africa Express e fez o showzaço ‘Eclipse’, no escuro total, em Manchester, em 2011. Agora, depois de quase dois anos na estrada e apenas um disco lançado (‘Remixes’, com pesos pesados da música eletrônica, como Bob Sinclair e Mike Snow, fazendo versões de seus hits), Amadou e Mariam estão em contagem regressiva para colocar no mercado seu sétimo disco de estúdio, ‘Folila’, cercado de expectativa e cheio de convidados especiais.

Com lançamento previsto para abril, o álbum terá onze músicas e participações de nomes como Tunde e Kyp do TV on the Radio, Jake Shears, do Scissor Sisters, Nick Zinner, guitarrista do Yeah Yeah Yeahs, Santigold e do rapper Theophilus London. Com produção do mesmo Marc-Antoine Moreau, francês parceiro da dupla desde o primeiro disco, ‘Sou ni tilé’, de 1998, ‘Folila’ teve músicas gravadas em NY e na capital do Mali, Bamako, com ambas sessões entrando na mixagem final.

Uma das faixas do disco, ‘Dougou Badia’, com Santigold, já pode ser ouvida no site da gravadora Nonesuch, e também em duas versões no EP homônimo de quatro faixas lançado no início do ano (as duas outras músicas são ‘Oh Amadou’ e ‘Wily Katsao’, essa gravada no show de Manchester).

Ouça na playlist ‘Dougou Badia’ e Wily Katsao’, mais uma seleção das melhores dos seis álbuns anteriores. Aqui, lembre ‘Dimanche a Bamako’, com Manu Chao.

A indicação ao Grammy, os elogios rasgados nas principais revistas do mundo e todo o moral com roqueiros e DJs, nada é por acaso. Amadou toca muito, Mariam tem uma voz incrível e as músicas um groove difícil de se achar. Que eles incluam o Brasil na turnê. 










Ebo Taylor - Appia Kwa Bridge (2012)

Parece que o discaço ‘Love and Death’, de 2010, o primeiro em quase em três décadas do agora senhor, Ebo Taylor, 76 anos, não acalmou o apetite desse que é o maior nome do high-life de Gana e um dos grandes guitarristas africanos de todos os tempos. Com lançamento previsto para abril, o segundo álbum com distribuição internacional de Ebo (ele se apresenta dia 5, em SP, na Virada Cultural), ‘Appia Kwa Bridge’, tem uma escalação digna de Copa do Mundo só com figurões da música black de várias gerações. Sente o drama: na bateria, Tony Allen (ex-Fela Kuti, um dos inventores do afrobeat e outro confirmado na Virada de SP e no Circo, no RJ); na guitarra, Oghene Kologbo, ex-Africa 70; na percussão, Pax Nicholas, autor do clássico ‘Na teefknow de road of teef’, de 1973, relançado recentemente pela Daptone; e nos teclados, Kwame Yeboah, filho da lenda de Gana, A.K. Yeboah.

Completa o timaço a Afrobeat Academy, uma super banda formada por músicos alemães de sangue blackíssimo de bandas como Poets of Rhythm e Woima. Todos já acompanham Ebo desde ‘Love and Death’ e estiveram ao seu lado no Womad de 2011 (a turnê, aliás, por detalhes não chegou ao Brasil).

Músico, compositor e produtor, Ebo Taylor tem longa estrada na música africana: começou nos anos 50 em Gana tocando high-life e depois foi morar e estudar em Londres, já na década de 60. Na Inglaterra, afiou seu estilo com fortes pitadas de jazz e chegou a tocar em jams locais com o então desconhecido Fela Kuti. Ebo costuma dizer que sempre dava um jeito de colocar uma faixa de afrobeat no lado B dos seus discos de high-life.

Na década de 80, com o hiplife (adaptação local do rap) tomando conta de Gana, Ebo foi morar no Canadá e deu uma sumida. Isso até gravadoras como Soundway, Strut e Analog Africa partirem rumo à África em busca de discos esgotados e relançarem material de bandas como Poly-Rythmo e de ídolos locais esquecidos como El Rego. Pela história que tinha dentro da música de Gana, Ebo Taylor foi um dos primeiros a ganhar destaque, foi convidado para shows na Europa e acabou gravando seu primeiro disco por uma gravadora europeia.

Com seis músicas inéditas de onze no total, ‘Appia Kwa Bridge’ sairá em CD e vinil duplo em edição daquelas caprichadíssima da Strut Records, a mesma de nomes como Mulatu Astatke, Poly-Rythmo, Heliocentrics e Souljazz Orchestra. 

Ouça aqui as músicas de ‘Love and Death’ e veja entrevista em vídeo com Ebo Taylor. Aqui, papo do blog Radiola Urbana, em Gana, 2005. E na playlist uma seleção de alguns hits do mestre do highlife. 




‘Nós que aqui estamos por vós esperamos’ (1999) - Marcelo Masagão - Trilha: Wim Mertens

Curador e idealizador do Festival do Minuto, Marcelo Masagão conseguiu colocar seu longa de estreia ‘Nós que aqui estamos por vós esperamos’ na lista dos filmes mais vistos de 2000 com apenas duas cópias circulando nos cinemas. Premiado em Recife, Gramado e em mais doze festivais pelo mundo, ‘Nós que aqui estamos’ é daqueles filmes que faz a gente sair do cinema sem palavras. E foi sem diálogo, nem narração, que Masagão fez um dos melhores documentários brasileiros da história.

Usando o mesmo modelo narrativo de Godfrey Reggio nos clássicos ‘Koyaanisqatsi’ e ‘Powaqqatsi’, o documentário tem pelo menos três grandes qualidades que explicam seu sucesso: primeiro, a escolha impecável de imagens feita a partir de uma enorme pesquisa em filmotecas do mundo inteiro (responsável aliás pela maior parte dos custos do filme com pagamento de direitos autorais); depois, uma edição cuidadosa e inspirada baseada em adaptação do livro de Eric Hobsbawn, ‘A Era de Extremos’. Mas é a trilha do belga Wim Mertens que pega lá no fundo, emociona de uma maneira que a gente demora para aterrissar após as luzes se acenderem no cinema.

Nome dos mais badalados da chamada música minimalista, que tem entre seus maiores destaques Terry Riley, Steve Reich, Brian Eno e Philip Glass (esse autor da também belíssima trilha de ‘As Horas’, incluída na playlist), Mertens é autor de quase 50 álbuns desde os anos 80 sempre seguindo uma linha mais melódica, mas mantendo o estilo e sofisticação do filme de Masagão. Tecladista de formação, o belga adota também em suas orquestrações instrumentos acústicos como violino, flauta e saxofone.  Em 2007, a EMI assinou contrato para relançar todo seu catálogo. Seu último álbum de inéditas é de 2010, ‘Zee Versus Zed’.

Para entrar no clima, veja abaixo a melhor sequência de ‘Nós que aqui estamos’: o balé de Garrincha e Fred Astaire, obra-prima do cineasta, dos personagens e de Mertens. Depois, mais trechos do documentário. E na playlist, ‘Close Clover’, que aparece também em coletâneas de música eletrônica como ‘Café Del Mar’, e ‘Struggle for Pleasure’, top 40 na Inglaterra, Bélgica e Holanda nos anos 90.

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